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terça-feira, 19 de março de 2013

Filme nº 76: Adaptation

O nome de Charlie Kaufman já havia sido mencionado aqui no blog quando publiquei o post sobre o filme Being John Malkovich. Não sei se alguém ainda lembra, mas eu comentei aqui que o roteiro daquele filme foi uma das coisas mais originais e geniais que eu já havia visto no cinema. Adaptation, lançado quatro anos depois, parecia seguir a mesma linha. E Kaufman me surpreendeu mais uma vez.

Nick Cage prestes a escrever uma das maiores obras metalinguísticas que já vi
O filme já começa completamente fora do convencional: com um monólogo de baixa auto estima do protagonista da estória, o próprio Charlie Kaufman (interpretado por um Nicholas Cage bem gordo), que em seguida aparece dentro do set de filmagens de Being John Malkovich. Incumbido de adaptar um livro sobre flores para um roteiro de cinema, Kaufman se vê diante de diversos obstáculos, tais como seus bloqueios mentais, sua tremenda timidez, a dificuldade de adaptar um livro para o cinema e as interrupções de seu irmão gêmeo, Donald, o qual também decidiu ser roteirista de cinema, mas sem ter metade do talento de Charlie. Paralelamente, temos a retratação do enredo do livro escrito pela jornalista Susan Orlean (Meryl Streep), narrando todo o aprendizado que obteve durante suas entrevistas com John Laroche, um homem fanático por orquídeas que ganhou fama por começar a roubá-las de reservas florestais.
O nome do filme corresponde de maneiras diferentes aos dois núcleos. Dentro do livro, a adaptação biológica das plantas ao ambiente que as cercam exerce grande importância dentro da catarse pessoal de Susan. Já para Charlie Kaufman, a adaptação de um livro que ele tem dificuldade de compreender completamente para um roteiro de cinema, o que acaba se tornando um grande pesadelo para o roteirista, afetando profundamente sua vida.
Nicholas Cage sem dúvida é o que mais chama atenção dentro do enredo. Ainda na fase boa de sua carreira, ele interpreta dois personagens diametralmente diferentes que interagem entre si o tempo inteiro. É até cômico dizer isso, mas a química que ele acaba desenvolvendo consigo mesmo no fim do filme é algo raro de se ver. Chris Cooper também faz um excelente trabalho na interpretação de um caipira rústico porém cheio de sabedoria, capaz de fazer a personagem da Meryl Streep repensar seu próprio conceito de paixão.
Apesar de não ser um filme muito empolgante, Adaptation é incrivelmente genial em seus aspectos metalinguísticos. Não apenas pelo fato do roteirista escrever um enredo no qual ele próprio é o protagonista, também escrevendo um roteiro, ou por se inserir dentro da realidade das gravações de Being John Malkovich; mas principalmente pela inesperada reviravolta resultante da colisão entre esses dois núcleos até então paralelos e pela revelação final do filme.

Eu não consigo falar mais sem revelar detalhes da trama, então vou parar por aqui pedindo encarecidamente que assistam esse filme.

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