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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Filme nº 208: Se7en

Aqui estava eu olhando pro blog e pensando 'porra, olha o tanto de filme que foi ficando pra trás e eu fui perdendo o ânimo pra comentar', ao mesmo tempo em que assistia alguns que me deixavam agitado para o bem ou para o mal mas que teriam que esperar no fim da fila. Foi aí que me dei conta do seguinte: o blog é meu e eu faço o que eu quiser. E por essa razão estou decidindo escrever o post desse filme que terminei de ver há apenas alguns minutos e que me deixou bastante agitado. Infelizmente, para o mal.  

"The world is a fine place and worth fighting for" I agree with the second part.
Tão simples como pode parecer, Seven (ou Se7en) narra a história de uma improvável dupla de detetives que encontram-se diante de uma série de assassinatos baseados nos sete pecados capitais. E, bom, é isso, não consigo pensar em nada mais para falar sobre o enredo no geral. O enredo realmente não é excepcional, e tampouco sua estrutura: temos o tradicional (pra não dizer clichê) formato de personagens para filmes do gênero, composto por um detetive mais racional e experiente + detetive novato e esquentadinho, os quais terão de lidar com um antagonista perigoso e metódico que nunca deixa pistas não-intencionais pois ele planejou tudo a níveis moleculares because he's so fucking smart. 
Já que não dá pra comentar muita coisa sem revelar detalhes importantes do filme (seguindo minha política de não dar spoilers), me centrarei em traços do enredo que mais me chamaram a atenção. O primeiro deles é a construção da amizade entre o detetive Mills (Brad Pitt) e o detetive Somerset (Morgan Freeman), que não teria nada de mais não fosse o clima de antagonismo entre os dois detetives no início do filme, o qual não chegou a ser resolvido de forma muito convincente. Daí temos que nos primeiros minutos os dois se odeiam, daí começam a trabalhar juntos e poucos dias depois já são como melhores amigos.
Outro ponto que me incomodou bastante foi a forma como os assassinatos foram executados: na maioria das investigações revela-se que as vítimas foram forçadas a cometer horríveis e dolorosos atos de auto-imolação que eventualmente as matariam sob a ameaça de... levar um tiro. Fica realmente difícil pra mim compreender tal coisa visto que a sanção por não cumprir a 'tarefa' soa muito mais aceitável e digna do que a 'tarefa' a ser cumprida. Enquanto que em Jogos Mortais pelo menos havia a oportunidade de sair vivo, em Seven fica meio claro que era morrer ou morrer. E aparentemente todos escolheram a pior forma possível. No mais, também achei que esses mesmos assassinatos passaram, em sua maioria, muito rapidamente pelo filme.
Por fim, temos o final, que muita gente dizia ser genial. Eu confesso que pra mim ele pareceu bem previsível, dados os pecados que ainda faltavam ser representados e os personagens que ainda serviam como opções para o assassino. Tracei três hipóteses, e a que revelou-se verdadeira estava entre elas. Das duas, uma: ou eu sou muito esperto ou o enredo de fato foi previsível, e olha que tenho muita convicção na minha falta de esperteza.
Depois de tudo isso fica fácil supor que achei Seven um filme superestimado. De fato achei que o enredo carregava em si algo de senso comum, tanto na premissa (sete pecados capitais, uau) quanto na execução da grande 'obra prima' dos assassinatos. Na minha opinião, simplesmente não é preciso ser nenhum gênio pra conceber esse enredo e tampouco seu desfecho. Por fim (e pra não perder o costume), meu breve comentário sobre os aspectos mais técnicos do filme: o trabalho de direção constrói um filme escuro, chuvoso e cinzento; claramente pensado para ser esteticamente feio, sujo e sombrio (ainda que o final tenha se passado num campo aberto em meio a um belo por-do-sol). E nisso foram muito bem sucedidos, pois Seven não é um filme nada bonito. 

Nota: 7,0

domingo, 11 de agosto de 2013

Filme nº 179: Clerks.

Cá estou eu baixando o filme de hoje quando de repente penso: 'cara, mas e o blog ein'. É, acho que não vai doer se eu tentar atualizá-lo rapidinho hoje. Ainda mais porque o próximo filme da lista merece muito alcançar um patamar superior de reconhecimento do que ele atualmente tem. Simples, inteligente, divertido e até mesmo um pouco profano, Clerks é um desses filmes que surpreendem, sendo capazes de oferecer muito mais do que sua premissa nos faz esperar.

I'm not even supposed to be here today.
Clerks. (com ponto final) consiste na narração de um longo dia de trabalho na vida de Dante Hicks, um simples balconista de uma loja de conveniência que é chamado para trabalhar no seu dia de folga. Ao longo desse dia, Dante recebe a visita de inúmeras pessoas, vive uma série de situações inusitadas e sofre com alguns tormentos pessoais. São momentos que variam da invasão da loja por um militante anti-tabaco, à revelação de que sua namorada já fez sexo oral com 27 caras, à partida de hockey no telhado da loja e até mesmo a morte natural de um cliente dentro do banheiro. No meio disso tudo, Dante conta com a constante companhia do seu amigo e atendente da locadora de vídeos ao lado, Randal Graves, que, diferentemente de Dante, não dá a mínima pro seu emprego e nem pros seus clientes. 
A simplicidade técnica do filme -que opta pelo preto e branco e basicamente se passa inteiramente na lojinha de conveniência de Dante- e a naturalidade de muitos diálogos e situações tornam a experiência bastante íntima e familiar de certa forma. É possível acompanhar o pequeno (porém significativo) processo de evolução do protagonista, que começa o dia em constante negação de sua capacidade de reagir e tomar o controle do próprio destino, presente na frequente declaração de que ele 'nem deveria estar aqui hoje'.
Eu achei que seria só um filminho ok, mas logo percebi que tratava-se de um filme muito bom, que explora o pequeno microcosmo que a maioria de nós nunca para pra dar atenção (o carinha que te atende todos os dias numa vendinha), com diálogos interessantes e bem articulados, personagens marcantes, inteligentes e com visão de mundo que encontram-se em meio ao tipo de situação que você certamente guardaria na memória pra contar pros seus amigos pelo resto da vida. 

Nota: 10

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Filme nº 176: O Discurso do Rei

Mais uma vez, a sobrevivência desse blog encontra-se numa situação crítica por conta das férias. Sim, aparentemente a primeira coisa que me acontece quando entro de férias é a perda da minha capacidade (e várias vezes também o interesse) de escrever. No caso desse filme, porém, decidi fazer um esforcinho, já que eu simplesmente adorei. Lembro de tê-lo assistido no dia do meu aniversário (19/07), só pra vocês terem noção do delay entre o blog e a realidade.

Fuck. Fuck! Fuck, fuck, fuck and fuck! Fuck, fuck and bugger! 
O Discurso do Rei é um filme baseado na história real do Duque de York, que viria a se tornar o Rei George VI do Reino Unido. Reprimido a vida inteira por conta de seus problemas de fala, George, ou 'Bertie', chegara num ponto em que já não via razão para continuar procurando tratamento, chegando a considerar abandonar a vida pública de vez. Sua esposa, no entanto, insiste um pouquinho mais e nisso acaba encontrando o nada ortodoxo Lionel Logue, que possui um jeito muito próprio de lidar com seus pacientes e seus problemas. Conforme o tratamento avança sobre a relutância de George, começa a brotar uma improvável amizade entre médico e paciente em meio a um contexto que acabaria colocando George na linha de sucessão do trono britânico em plena véspera de Segunda Guerra Mundial.
Eu já me via especialmente inclinado a gostar desse enredo por conta da abordagem da realeza britânica e da ambientação em um contexto histórico que sempre achei interessante. Obviamente não me decepcionei nesses aspectos, sendo ainda surpreendido por um incrível elenco capaz de dar vida à um ótimo texto. O destaque, é claro, vai primeiramente para Colin Firth, que soube reproduzir de forma genial a relutância e insegurança de um homem incapaz de falar em público. Em segundo lugar temos Geoffrey Rush, o qual, apesar de (ou justamente por) interpretar o clichê de personagem visionário que sempre sabe o que faz e mesmo assim ninguém bota fé por ser muito ousado, ainda é capaz de conquistar a simpatia do expectador. Por fim, vale fazer menção à participação pequena porém estrondosa do Michael Gambom (o Dumbledore) como rei George V; e ao papel da Helena Bonhan Carter, que incrivelmente não está interpretando uma louca psicótica. 
As melhores definições para O Discurso do Rei sem dúvida são 'encantador' e 'inspirador', por mostrar a realeza britânica sob a perspectiva de um príncipe tímido e recluso que começa o filme travando sofrivelmente durante um discursinho de rotina; para no fim conseguir superar seus medos e limitações, tornando-se Rei contra todas as expectativas, terminando o filme com um bem sucedido discurso de declaração de guerra à Alemanha.
Pra não dizer que o filme foi 100%, queria só mencionar que ele acaba sendo maniqueísta nas relações entre George e seu irmão Edward; além de ser meio anti-histórico ao fazer com que todos saibam com toda a certeza que Hitler e o Nazismo são grandes ameaças à civilização e à humanidade, como se isso fosse óbvio no pré-guerra. Aliás, o personagem do Churchill, apesar de bem incorporado, ficou esteticamente bem mal feito. 
Nota: 9,5

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Filme nº 166: Meia Noite em Paris

Esse provavelmente foi um dos posts que mais deu trabalho esse ano. Isso acontece normalmente nos filmes que eu realmente gosto (e esse não foge à regra), mas acho que nesse caso também pesou o fato de várias pessoas que eu conheço amarem o filme. Desde o primeiro momento em que sentei pra tentar escrever o comentário sobre Meia Noite em Paris, há muitos dias, tenho sido atacado por uma impiedosa falta de ideias. O que é curioso, tratando-se de um filme essencialmente sobre inspiração. E foi constatando isso que notei que tudo o que precisava fazer para encontrar o caminho era imitar a fórmula do filme e tentar realizar uma viagem fantástica e surrealista à minha era de ouro particular. Funcionou? Não, mas pelo menos me rendeu o primeiro parágrafo do post.  

Present is a little unsatisfying because life is a little unsatisfying.
Lançado em 2011, Meia Noite em Paris conta a história (nem um pouco biográfica, pra variar) de Gil Pender, um escritor que tem alcançado relativo sucesso escrevendo roteiros comerciais para Hollywood, mas que encontra-se longe de se sentir realizado como um artista. Pensando nisso, Gil decide investir suas energias em seu primeiro romance sob o constante desencorajamento de sua esposa, que o pressiona a seguir na lucrativa carreira de roteirista comercial, além de desdenhar da sua grande paixão pela cidade e fascínio por sua Era de Ouro dos anos 20. Quando sua esposa insiste em convidar um amigo pseudo-intelectual pedante para acompanhá-los em todos os passeios turísticos, Gil dá uma escapadinha do grupo e se arrisca a desbravar a noite parisiense sozinho. Bêbado e perdido, ele senta numa calçada para tentar se orientar quando os sinos da meia noite anunciam a chegada de um automóvel que magicamente o transporta de volta para a década de 1920, onde ele encontra pessoas como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Salvador Dalí, Jean Cocteau e Pablo Picasso.
Com um enredo tão inusitado quanto amável, Woody Allen dá uma escapada do seu tradicional pessimismo neurótico e constrói um filme realmente inspirador. A primeira coisa que chama a atenção é o modo como o diretor delega descaradamente sua personalidade aos protagonistas (isso porque ele não protagoniza mais seus próprios filmes), e nisso Owen Wilson cumpre muito bem sua função, interpretando um Gil inquieto, tagarela e cheio de manias. Os demais personagens também cumprem muito bem seu papel, seja a esposa desagradável de Gil e seu amigo pedante, sejam os grandes artistas e escritores retratados durante as viagens no tempo.
Como era de se esperar, a cidade de Paris (de todas as eras) é praticamente um personagem do filme, com beleza, importância, carisma e personalidade. A paixão que ela desperta do protagonista (e consequentemente no expectador) é bastante autêntica, competindo em igualdade com o amor que ele eventualmente nutre por Adriana.  E a cidade não é mostrada de forma clichê do tipo Torre Eiffel museu restaurantes francesas bonitas franceses chatos, mas sim como a verdadeira Cidade Luz, capaz de despertar o melhor da razão e do coração de todos os que se deixam conquistar por ela.
Por fim, outro grande protagonista do filme é a década de 1920, muito bem construída através de figurino, cenários, personagens, atuações e trilha sonora. E não sei mais o que acrescentar sobre ela porque no fundo eu estou ao lado da Adriana ao ser Team Belle Époque. 

Satisfeito por ter assistido.

Nota: 10

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Filme nº 168: O Bandido da Luz Vermelha

Dando uma olhada na lista de filmes que assisti esse ano, constatei, em primeiro lugar, a injusta proporção de filmes nacionais em meio a uma tonelada de filmes americanos. No fim das contas, isso já era algo previsível por razões óbvias. Mas, dentro dos filmes nacionais, percebi também uma grande falta de ousadia da minha parte, que ainda não havia me arriscado no cinema nacional anterior à década de 1990 e fora do mainstream seltonmelliano ou wagnermourista. Com isso em mente, decidi pegar a coisa mais louca que apareceu na minha frente. E em termos de loucura, O Bandido da Luz Vermelha não decepciona.

QUEM TIVER DE SAPATO NÃO SOBRA
O Bandido da Luz Vermelha é um filme de 1968 que conta, dentre muitas e muitas outras histórias, a trajetória do criminoso mais temido e famoso da década de 1960, que transformou-se no inimigo público oficial da sociedade brasileira com suas invasões à residências de classe média-alta, roubando, estuprando ou apenas conversando com suas vítimas durante o processo, sempre escapando da política de formas espetaculares e torrando os lucros de forma extravagante. Pra minha surpresa, no entanto, a figura do bandido em si não é o ponto central do filme, que também trata de assuntos variados como a polícia, a imprensa, a política, a guerra, a cultura pop, os pobres, os ricos, os países pobres, os países ricos e a grande luta por identidade que um sujeito pé-de-chinelo trava para sobreviver em meio a tudo isso.
A primeira coisa que notei ao começar a assistir esse filme foi o fato dele ser incrivelmente original e criativo em sua execução, a qual ficou a cargo do diretor Rogério Sganzerla, que tinha apenas 22 anos na época (me fazendo pensar que talvez ainda haja tempo rs). Um dos aspectos que me chamou a atenção logo de cara foi a narração, que ficou a cargo de locutores de rádio sensacionalistas que permeiam a estória com notícias urgentes do Brasil e do mundo, tornando a narração extremamente frenética em seus temas. O enredo, por outro lado, é tão caótico e dadaísta que não demorou muito pra eu desistir de compreendê-lo completamente, simplesmente me deixando levar pelas dezenas de personagens e situações normais ou nem-tão-normais nas quais eles se encontram.
De todas as loucuras do filme, a que mais me agradou foi o clima extremamente tumultuado em que o Brasil se encontra (no enredo e na vida real), sendo sacudido por temas como terrorismo, guerrilha, ditadura, guerra fria, comunismo, bomba atômica, terceiro-mundo, espionagem, nazistas fugitivos, revolução, rebeldia, criminalidade, pobreza, corrupção, truculência, OVNIs, alienígenas e etc. A abordagem relativamente crítica de todos esses temas simultaneamente é surpreendente se levarmos em conta que o filme foi lançado no mesmo ano do AI-5. Se a minha intenção era sair do óbvio, eu não poderia ter sido mais bem sucedido.

Nota: 7,5

terça-feira, 23 de julho de 2013

Filme nº 165: Premonição 4

Encerrando com chave de alumínio o pequeno ciclo de filmes de terror (ou que parecem de terror), lhes apresento o irmão responsável pelos momentos constrangedores dentro da família Premonição. Eu realmente gosto muito da franquia, ela prova o ponto de Hitchcock ao mostrar que no fundo todo mundo curte testemunhar uns acidentes fatais bizarros. O quarto episódio, infelizmente, mergulhou de cabeça na porcaria da nova onda 3D e, dando a cara no fundo raso, quase morre de forma tão bizarra e ridícula quanto seus personagens. Quase.   

CARA, NÃO INVENTA, É SÓ UMA ESCADA ROLANTE
Dentro da franquia Premonição, a descrição do enredo é tão dispensável quanto a própria existência dele (não que isso seja ruim, a proposta foi original e os resultados dos três primeiros filmes foram bem interessantes), mas vou descrever o enredo assim mesmo. Tudo começa quando um grupo de jovens (sempre jovens, já estou perdendo a paciência) decide assistir uma corrida, até o momento em que um deles (não por acaso, o mais virtuoso) tem uma premonição extremamente realista de uma grande tragédia que está para acontecer. Assustado, ele obviamente tenta salvar quantas vidas puder, e os que não passam a acreditar nele no momento em que a tragédia de fato ocorre, provavelmente mudarão de ideia quando os sobreviventes começarem a morrer um de cada vez. 
Depois de bons momentos com o acidente de avião, o engavetamento na estrada e o fantástico acidente de montanha russa, eu já fiquei com o pé atrás com esse filme ao ver a abertura com um rockzão pesado. Filme de terror com rockzão pesado é a marca registrada da coxinhização do estilo, que aparentemente se transformou num sex-gore de ação. Mas, diga-se de passagem, a abertura foi bem legal, pagando tributo aos filmes anteriores. Pena que nem deu tempo de digerí-la bem, pois a cena do acidente é simplesmente a PIOR de toda a franquia, exagerada, forçadíssima, pouco inspirada e com péssimos efeitos visuais.
Bastante indignado, decidi torcer pra que as mortes individuais compensassem essa afronta. E as duas primeiras mortes quase me fizeram desistir, a primeira por ultrapassar todas as fronteiras do ridículo e a segunda por confundir a construção cuidadosa do suspense com o disparo mal educado da surpresa. Não bastasse esse retorno à 1995 em termos de trash, os dois protagonistas eram a perfeita definição do sem sal e sem graça, com um nível de telepatia que extrapola os costumes da franquia, enquanto que os personagens que tinham potencial para serem bons (o cowboy e o segurança) foram completamente desperdiçados.
'Mas, Nelson, é só pedras esse comentário?' Pior que não. Quando eu já me encontrava completamente descrente com o filme, ele deu uma melhorada significativa. A cena do lava-jato, por mais bizarra que soe, acabou sendo muito boa, criando um real clima de suspense. A ideia da piscina foi boa também (me afeta pessoalmente pois já quase morri daquele jeito), mas não era necessário ir até as últimas consequências só pra jogar algo na tela e fazer valer o 3D.
Por fim, a introdução de uma segunda tragédia foi uma ideia realmente interessante que acabou salvando o filme do completo desastre, evitando milagrosamente a maior parte dos erros escabrosos da primeira metade. Eu sempre digo que um bom final faz um bom filme, e é por isso que, apesar de ruim, eu me arrisco a dizer que Premonição 4 vale a pena sim, nem que seja como exemplo do que não fazer com uma boa franquia.

Nota: 6,0

domingo, 21 de julho de 2013

Filme nº 164: Rope

Juro pra vocês que a onda terror-suspense já vai dar um intervalinho. Assim como também espero que a demora de 2-3 dias por postagem também dê seu intervalinho. Ocupado demais pra ver Psicose, acabei procurando os exemplares mais curtinhos da filmografia de Hitchcock, e Rope acabou me chamando a atenção pela dose extra de sadismo e psicopatia, o que, dentro do contexto hitchcockiano, definitivamente significa alguma coisa. 

Murder can be an art too.
Rope é um filme de 1948 que conta a história de Brandon e Philip, uma dupla de jovens que se consideram intelectualmente superiores, e para colocar isso em prova decidem não apenas assassinar um colega de classe dentro do apartamento que compartilham em Nova York, como também organizar uma festa dentro do mesmíssimo cômodo no qual o corpo está escondido, tendo como convidados o pai e a noiva do colega assassinado. 
Já começando com o assassinato do pobre colega (que é até um pouco cômico, me processem), o filme segue basicamente sem qualquer tipo de troca de cena até sua conclusão, o que obviamente chamou minha atenção positivamente depois de Children of Men. Além desse bom trabalho estético de direção, o filme conta com personagens bem marcantes, auxiliados por excelentes atuações pautadas em diálogos bem articulados. A começar pela dupla de assassinos. Brandon, o mais convicto, convence muito no papel de psicopata debutante, enquanto Philip, interpretado por Farley Granger (o mesmo de Strangers on a Train), consegue a proeza de manter a postura de bom moço mesmo sendo a mão que cometeu o assassínio. A bela personagem de Janet é mais uma prova de que os papéis femininos de Hitchcock costumam ser inteligentes e seguras de si (com o bônus de ser carismática e engraçada). Por fim, o soturno professor Rupert, interpretado por James Steward, é na minha opinião o melhor personagem de todos. 
Como já havia constatado em Strangers on a Train, Hitchcock realmente não faz questão de esconder seu fascínio pouco social por assassinatos. Seus personagens invariavelmente estão sempre conversando sobre cometer crimes perfeitos, isso quando não estão cometendo-os pelo fascínio que isso gera em suas mentes. E Rope obviamente leva isso até as últimas consequências.

Nota: 10

terça-feira, 16 de julho de 2013

Filme nº 162: Jogos Mortais

Pra quem sempre se considerou avesso à torturas e mutilações em filmes de terror, a ideia de assistir Jogos Mortais me parecia inconcebível, mesmo sabendo de todos os comentários que classificavam o filme como genial. Mas com essa constante quebra de paradigmas, Jogos Mortais parecia o mais óbvio desafio a ser superado. Nesse caso, missão cumprida. O filme é muito mais tranquilo do que imaginei, embora tenha sido necessário um pouco de paciência para descobrir onde, afinal, estava toda a genialidade (mas relaxem, que ela estava lá). Acho que o próximo passo agora é assistir O Albergue ou os filmes do Almodóvar.

I want to play a game..
Jogos Mortais começa com uma dupla de homens que acordam com os pés acorrentados às paredes de um banheiro imundo no qual há um cadáver no chão e várias mensagens secretas. Não demora muito para descobrirem que estão nas mãos de um grande serial killer em ascensão chamado Jigsaw, responsável pela morte de dezenas de pessoas sem sujar as mãos com nenhuma delas. Conforme tentam cooperar para escapar, eles se dão conta de que nenhum deles está ali por acaso, e que eventualmente terão de se voltar um contra o outro para recuperar a liberdade.
A primeira coisa que me chamou a atenção no filme foi seu trabalho de direção bem feioso, reflexo, dentre outras coisas, do baixo orçamento do primeiro filme. Eu sei que boa parte dos cenários tinha por intenção ser horrível, mas isso se reflete basicamente em todos os aspectos físicos do filme. Outro ponto fraco que detectei de cara foram as atuações não tão boas (com algumas decididamente ruins) da maior parte dos personagens, que serviu pra coroar a impressão de que tratava-se de um filme B.
Não, Jogos Mortais não é um filme B. E isso se deve única e exclusivamente ao enredo inteligente e bem construído que fez um ótimo trabalho em me fazer achar que não era um enredo inteligente e bem construído. Durante a maior parte do filme fiquei pensando 'ok, já entendi a parte sádica, agora cadê a parte inteligente que me falaram', imaginando que o Jigsaw estava bem longe de ser aquela evil mastermind que eu achei que fosse por conta de uma série de atitudes estúpidas e um enredo confuso e não-linear que parecia estar correndo atrás da própria cauda. Isso sem mencionar a frustração com o quão pouco o bonequinho Billy dá as caras no filme.
Mas como um bom final faz um bom filme, fui pego de surpresa pelo desenrolar dos eventos e de uma hora pra outra me vi diante de um enredo surpreendentemente bom, que merecidamente fez muito sucesso e arrecadou bastante dinheiro para estragar a franquia com oitocentas sequências. Mas fingindo desconhecer os rumos da série, eu realmente fiquei animado para assistir a continuação da história, que termina indicando que ainda há muito pela frente (ah, e como tem).
Pra quem nunca assistiu o filme pelos mesmos receios que eu, repito: é bem light, não se deixe enganar pelos cartazes.

Nota: 8,5

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Filme nº 158: Children of Men

Dos efeitos que o ato de ver tantos filmes tem provocado em mim, um dos mais curiosos é meu interesse crescente pelos detalhes do trabalho de direção. Sim, eu ando fantasiando sobre como seria ser o diretor de um filme e o quão legal seria trabalhar com seus aspectos mais técnicos. E Children of Men foi justamente o filmes que mais incentivou esse devaneio biruta ultimamente, com um trabalho de direção impecável do mexicano Alfonso Cuarón (que também dirigiu 'E sua Mãe Também' e 'Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban'), que pode ser resumido em duas palavras: plano-sequência.

It's very odd what happens in a world without children voices.
Children of Men se passa em 2027, ano em que a humanidade está de luto pelo assassinato do homem mais jovem do mundo, morto aos 19 anos de idade. Depois de duas décadas de completa infertilidade na espécie humana, é quase impossível manter a esperança num planeta onde não existem mais crianças. Frente essa situação, a maior parte dos países sucumbiu ao caos e à anarquia, e os poucos que conseguiram manter algum vestígio de ordem, como a Grã-Bretanha, agora vivem numa ditadura que persegue implacavelmente todo e qualquer imigrante. 
Dentro desse contexto, o burocrata Theo Faron (Clive Owen) é surpreendido pelo ressurgimento de sua ex-esposa Julian (Julianne Moore), uma antiga ativista que agora comanda um grupo clandestino de apoio aos imigrantes, que pede sua ajuda na obtenção de documentos para tirar uma refugiada do país. Depois de uma série de imprevistos, Theo se vê muito mais envolvido no problema do que gostaria, entrando no meio de uma disputa de poder entre grupos terroristas e forças militares corruptas, terminando como o único responsável pela segurança dessa refugiada que milagrosamente carrega um filho em seu útero.   
Bom, nem preciso mencionar que o universo em torno desse enredo é incrivelmente interessante e original, apresentando um mundo em vias de se tornar apocalíptico, habitado por gente que tem plena consciência disso. O cinzento cenário de pessimismo e austeridade dentro das fronteiras britânicas, e o escabroso caos e violência fora delas é extremamente bem construído, contando com o auxílio de cenários detalhados que retratam as cidades, os campos de refugiados, as áreas rurais e os campos de guerra.
Outro ponto notável são os personagens, a começar pela excelente atuação de Clive Owen no papel do protagonista. Depois de vários filmes de ação um tanto quanto malucos dos quais ele fez parte, foi uma grande surpresa vê-lo interpretando um papel sério e extremamente humano. Não poderia também esquecer de citar o personagem de Michael Caine, que abandona o esnobe personagem do mordomo Alfred dos Batmans de Nolan e se transforma num hippie irreverente e maconheiro. A atuação desses e de todos os outros personagens é potencializada pelo grande realismo do filme em termos de cenas de ação (balas atingem seus alvos, explosões com menos fogo e mais destroços) e demais detalhes que geralmente ficam de lado na maioria dos filmes anglófonos (estrangeiros que não falam inglês, personagens que se ferem de verdade).
Pra terminar, eu preciso citar o que realmente me deixou apaixonado pelo trabalho de direção do filme, que são as incríveis cenas de plano-sequência, nas quais ações de vários minutos são gravadas num único take. Logo fiquei intrigado acerca de como diabos eles conseguiam fazer cenas de até 10 minutos de perseguições, tiroteios, explosões e centenas de atores num único take perfeitamente sincronizado. No começo me decepcionei por ver que se tratava de computação gráfica, mas logo voltei a ficar fascinado porque, de toda forma, segue sendo um efeito fascinante com resultados de tirar o fôlego.

Nota: 10

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Filme nº 155: Apollo 18

Um leitor mais atento provavelmente notará que aos poucos os filmes de terror tem ficado mais frequentes na minha lista. Bom, acho que em algum momento desse ano eu rompi meu tradicional receio (medinho) e preconceito (medinho de novo) com esse estilo, e um mergulho em meia dúzia de filmes que assisti de lá pra cá me fez ver que no fundo eu era um fã encubado do gênero (especialmente pela curta duração da maioria dos filmes). Como dizia Hitchcock: "eu acho que todo mundo aprecia um bom assassinato, desde que não seja a vítima". Pena que esse filme não é lá essas coisas.

There's a reason we've never gone back to the Moon.
Apollo 18 é basicamente uma coletânea de filmagens divulgadas por algum tipo de conspiração que denuncia a até então desconhecida existência de uma última missão tripulada à Lua em 1972, além de mostrar os reais motivos para o homem jamais ter voltado a pisar lá. Nessa missão, três astronautas são enviados secretamente à Lua por razões que não lhe são reveladas. Aos poucos eles acabam descobrindo que muito possivelmente não se encontram sozinhos em solo lunar. 
Apesar da intensão em ter suas filmagens no estilo 'founded footage', o formato do filme lembra mais um documentário, já que as imagens não são cruas e nem corridas, mas sim constantemente editadas. Claro que existe a desculpa de que seja lá quem divulgou tudo isso foi quem editou, mas o enredo perde muito em naturalidade. Essas mesmas filmagens, por outro lado, exercem um papel fundamental na construção do clima de terror e suspense do filme através de ruídos de estática e interferência. Pena que o áudio das falas não corrobora a razoavelmente boa edição de vídeo feita para fazer com que as filmagens pareçam pertencer à época. 
Outro aspecto que poderia ser bem melhor com relativamente pouco esforço são os personagens. Apesar da falta de personalidade não se resolver assim tão facilmente, poderia ter havido algum esforcinho para fazer com que eles realmente parecessem viver nos anos 70. Mas não, todos são bem genéricos no visual e na personalidade, não esquecendo jamais de cometer suas doses de burrice pra que não esqueçamos que, afinal de contas, é um filme de terror. 
No mais, o filme tem seu estoque de ideias interessantes apesar do desfecho decepcionante. Não vou comentar nem um nem outro pra guardar as surpresas pra quem se interessar, mas acho que dá pra ao menos mencionar o site lunartruth.com, que funciona como uma espécie de teaser para o filme, além de servir de explicação para toda a conspiração. Ainda não li, quem sabe um dia (qual a chance).

Nota: 6,5

sábado, 6 de julho de 2013

Filme nº 150: Meu Nome Não é Johnny

Minha credibilidade aqui deve estar baixíssima com esse volta/não volta. Também não está ajudando o fato deu nunca mais ter comentado um filme nacional. Aparentemente eu esvaziei minha lista de bons filmes senso-comum Selton Mello-Wagner Moura que vêm à cabeça de imediato quando se pensa em cinema brasileiro. Sim, isso é um grande pecado pra quem se propõe a fazer o que to fazendo. Gostaria de contar com as sugestões de vocês para expandir meu nicho de bons filmes nacionais.

Meu objetivo é TORRAR um milhão de dólares (risos, vai nessa amigão)
Meu Nome Não é Johnny narra a história real de João Guilherme Estrella, uma cria da classe média-alta carioca que a partir da separação dos pais mergulha aos poucos num estilo de vida hedonista de festas e drogas. Cada vez mais popular e viciado em cocaína, João Estrella entra por acaso na rede de distribuição de droga para abastecer suas próprias festas. Com o aumento da demanda e uma troca progressiva de fornecedores, João Estrella torna-se em poucos anos o maior vendedor de drogas do Rio de Janeiro sem montar qualquer tipo de império nem nunca ter disparado um único tiro. 
A princípio fiquei em dúvida se deveria ou não comentar esse filme, já que, apesar de ter gostado, eu julguei não ter nada de muito interessante pra comentar. Mas aí voltei atrás por conta da escassez de filmes nacionais e também por lembrar que só assisti esse filme porque o Mestre Mkt Love sugeriu, e portanto não poderia ficar devendo essa. 
Partindo de uma ideia interessante e inusitada se pegarmos os contos do tráfico de filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, Meu Nome Não É Johnny contrasta a ascensão meteórica de João Estrella durante a década de 1980 com sua queda fulminante ao ser preso e condenado em 1995 sem a violência e ação dos filmes de Fernando Meirelles e de José Padilha. O melhor aspecto do filme na minha opinião foi a retratação dos anos 80 e a juventude loucaça que neles viveu, e essa abordagem conta com a ajuda de um bom trabalho de reconstituição da época através de carros, roupas e acessórios, além da ótima trilha sonora. 
A parte final do filme, por outro lado, coloca o pé no freio em todos esses elementos e insere a história numa tentativa de drama que não me agradou muito. Essa é a etapa na qual João Estrella conhece tragicamente seu alter ego Johnny (a justificativa pro nome do filme só vem nesse finzinho) ao parar no banco dos réus e na prisão. Felizmente não era objetivo do filme mostrar a realidade do sistema penal brasileiro (se eu quisesse explorar o tema estaria assistindo Carandiru), e essa parte é relativamente curta, embora não deixe de ser um pouco contaminada pela pieguisse de história de superação. Mas se foi isso que aconteceu na vida real, paciência.
Outra ressalva que eu faço diz respeito ao elenco, que não me pareceu muito bem escolhido no geral. Selton Mello, apesar de fazer uma excelente interpretação, simplesmente não se encaixa satisfatoriamente no papel de hedonista vida loka. Digo, basta assistir o Cheiro do Ralo e fazer uma comparação entre os dois protagonistas pra descobrir que estilo o ator interpreta com mais naturalidade. Cléo Pires é outra que não me convenceu muito, com a diferença de que na minha opinião ela não soa natural em nenhum papel que não seja o dela mesmo (jovem petulante com um irremovível sotaque carioca). Julia Lemmertz por sua vez é subutilizada no papel de mãe do João Estrella, sendo ausente não só na maternidade mas também no filme inteiro. Por fim, o restante do elenco em sua maioria parece  tirado da Malhação (alguns de fato o são), o que é auto-explicativo. 

Nota: 8,0

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Filme nº 147: [REC]²

Esse é oficialmente o post que mais tomei tempo para escrever nesse blog. São quase 20 dias de diferença entre hoje e o dia que assisti o filme. Durante esse tempo eu bem que tentei publicar esse post em várias ocasiões, mas foi realmente difícil terminá-lo por conta da falta de inspiração, da falta de tempo, do excesso de coisas acontecendo no país e na minha vida e, por fim, do excesso de ódio que nutri pelo filme. Eu meio que já esperava ver uma piora do segundo filme para o primeiro pois normalmente sou contra a produção indiscriminada de sequências (vale lembrar que [REC] 4 está para ser lançado esse ano), especialmente em filmes de terror. Mas, como o crítico razoável que tento ser, procurei ver do que se trata antes de começar a condenar. Agora que vi, segura aí minha condenação.  

??Que cojones están haciendo con esta franquia???
Começando exatamente onde o primeiro termina, [REC]² narra a entrada de um agende do ministério da saúde acompanhado de um esquadrão da polícia no edifício em quarentena para controlar a situação e obter uma amostra de sangue do paciente zero. Uma vez fechados lá dentro, eles logo se deparam com os seres descontrolados que aterrorizaram o edifício no filme anterior. A sequência, no entanto, larga aquele clima de possível infecção biológica e aposta no (muito, muito pior) sobrenatural ao começar a falar de Vaticano e possessão demoníaca (eu sei que isso já vem desde o primeiro filme, mas lá ao menos existia a ilusão).
Desde o início eu já senti que iria curtir o filme bem menos do que o original, a começar pelos personagens principais, um protagonista misterioso cercado de um bando de soldados, que já dão a entender que o filme vai se focar muito mais no tiroteio do que no terror. Outro ponto negativo dos personagens é que eles são praticamente desprovidos de personalidade, além de facilmente suscetíveis à ataques de fúria e medo que nem os despreparados civis do filme anterior tinham. A constante raiva dos soldados é especialmente irritante e não-natural, recheando o filme de palavrões hispânicos desnecessários.
Outra perda em relação ao primeiro filme é o relativo abandono do formato improvisado em direção a algo mais subordinado a um script, sendo mais filme e menos documentário. Isso tira muito da espontaneidade que me fez gostar da franquia em primeiro lugar, abrindo muita brecha para clichês. Alguns outros detalhes também ficaram diferentes, como a facilidade com que as pessoas se infectam. Em média as pessoas do primeiro filme se infectavam com tremenda facilidade, enquanto nesse os caras se agarram, se esfregam, lambem, beijam na boca dos zumbis e nada. Por fim, o elemento sobrenatural sempre dá liberdade pro roteirista fazer o que quiser sem dar a menor justificativa de nada, e isso fica evidente nas cenas com a menina Medeiros na escuridão, onde aparentemente existem duas dimensões diferentes sem qualquer explicação.
Quando eu estava pra declarar o filme um caso perdido, descubro esperançosamente que ele é dividido em duas partes distintas, com personagens diferentes. Com essa chance de ouro na mão, é claro que decidiram introduzir personagens ainda mais burros e irritantes que os primeiros, sendo a maioria deles desnecessária. E falando em personagens, uma das coisas que mais me fez ter vontade de ver a sequência era a chance de rever os personagens que tanto curti no primeiro filme. E pra minha decepção isso foi completamente mal explorado, não retornando efetivamente os que eu queria ver e ainda por cima escrotizando os que voltaram.

Fiquei realmente chateado com os rumos da franquia. Com certeza não verei o terceiro filme com a mesma pressa com que vi o segundo. Pra um hiato tão grande e um filme tão ruim, eu já esperava que o post acabasse ficando grande. Foi mal, tentarei ser mais conciso nos próximos.

Nota: 5,0

terça-feira, 11 de junho de 2013

Filme nº 146: Mientras Duermes

Se tem uma coisa que eu devo agradecer à [REC] além dos excelentes minutos que o filme me proporcionou, é o redespertar do meu interesse pelo cinema espanhol e em especial pelo trabalho do diretor Jaume Balagueró. E foi isso que me trouxe ao curioso e de certa forma perturbador Mientras Duermes, filme de 2011 que se encaixa perfeitamente na definição do termo 'creepy'.

Feliz. Yo no puedo ser feliz.
Mientras Duermes conta a história de César, um diligente e insuspeito zelador de um edifício residencial que se julga completamente incapaz de ser feliz. Desconfortável com a ideia de suicídio, César acaba encontrando uma maneira peculiar de se sentir satisfeito e realizado: sabotar a vida de todas as pessoas à sua volta com o objetivo de vê-los tão infelizes quanto ele. Dessa forma, aos poucos a vida de cada morador começa a se tornar um pequeno inferno, com exceção de uma pessoa, Clara. Intrigado com a persistência da jovem em continuar de alto astral, César decide concentrar todo o seu esforço em cima dela para destruir de vez os seus sorrisos, e isso inclui passar todas as noites escondido dentro do apartamento da moça para colocar suas ideias em prática.
Acho que é desnecessário mencionar que esse é filme apenas confirma a tendência perturbada do cinema espanhol e do próprio Balagueró. Fazia tempo que não me deparava com um personagem tão interessante quanto César, que sabota a vida de todos sem o menor interesse pessoal, desejando apenas contagiar sua infelicidade. Que nem uma Amélie Poulain do mal. Além de César, acho que talvez só a garotinha chantagista mereça destaque dentre os personagens. O que não significa, porém, que o elenco em geral não tenha feito um excelente trabalho de interpretação.

Nota: 8,5

domingo, 9 de junho de 2013

Filme nº 145: Dr. Strangelove

Pulando mais dois filmes, The Man From Earth (2007) e o bósnio/esloveno No Man's Land (2001); chego ao incrível Dr. Strangelove (or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb), comédia de Stanley Kubrick lançada em 1964. Eu já havia assistido esse filme durante o ensino médio e achei que havia entendido tudo. Revendo agora, me dei conta de que haviam milhares de detalhes que eu não havia notado ou entendido, me fazendo amar ainda mais esse filme.   

What about Major Kong??
Sr. Strangelove narra as horas de tensão nuclear resultantes das ações de um fanático general americano que ordena o bombardeio da União Soviética à uma imensa frota de B-52s que não podem ser chamados de volta sem que lhes seja dada a combinação certa de caracteres. Desesperados e impotentes, os membros da cúpula militar e política dos Estados Unidos são chamados à icônica sala de guerra para tentar encontrar uma solução rápida para esse grave problema. Ao entrarem em contato com o embaixador soviético e em seguida o premiê da URSS, eles descobrem que um ataque aos russos ativaria uma máquina do Apocalipse capaz de acabar com a vida na Terra. E assim começa um desesperado e atrapalhado esforço de cooperação entre os desconfiados e anticomunistas generais americanos e os bêbados e oportunistas soviéticos. Dentre os americanos está o excêntrico e ex-nazista Dr. Strangelove, assessor do presidente em assuntos científicos que possui uma visão extremamente prática de mundo, além de ter dificuldade em abandonar o hábito de se referir ao seu superior como 'Mein Führer'.
Quando assisti pela primeira vez, eu realmente não havia prestado atenção em todos os interessantes detalhes militares que são dados ao longo do filme, além do texto muito bem escrito e articulado. Também não havia dado crédito à toda a ironia e humor negro contido ao longo do enredo e nem ao excelente trabalho de direção de Kubrick, que traz elementos cinematográficos que eu francamente sinto muita falta nos filmes de hoje, como o clássico close repentino de câmera.
Por fim, temos a eterna cena do Major Kong cavalgando a bomba nuclear, que eu devo ter assistido pelo menos umas dez vezes. Esse personagem, por sinal, teria sido o melhor do filme, não estivesse ele no mesmo elenco que Peter Sellers, o qual interpreta simultaneamente o Dr. Strangelove, o Presidente Merkin Muffley e o Capitão Mandrake de forma tão brilhante que um expectador desatento mal notaria a semelhança entre os três personagens (tal como eu não notei da primeira vez).

Nota: 10

sábado, 8 de junho de 2013

Filme nº 142: [REC]

Definitivamente eu me encontro apaixonado pelo cinema espanhol, lar de uma infinidade de filmes originais, bizarros e incríveis. Em outras ocasiões acho que eu jamais teria pego esse filme pra assistir, mas meu recente interesse por filmes de terror tornou essa experiência possível. E QUE EXPERIÊNCIA! Sem dúvida foi um dos melhores filmes de terror que já assisti, e é uma pena que a franquia tenha sido estragada tão rapidamente por um idêntico e desnecessário remake americano e uma série de sequências que destroem aos poucos a fórmula de sucesso do filme original. 

Acompanhenos en Mientras Usted Duerme
[REC] conta a história de uma repórter e um cinegrafista de um programa noturno que estão gravando uma matéria acerca do cotidiano de um corpo de bombeiros em Barcelona. No meio da noite, os bombeiros recebem uma chamada e despacham uma viatura para um pequeno bloco residencial onde ouviam-se gritos vindos de um dos apartamentos. A dupla então acompanha os bombeiros no que eles imaginam ser apenas uma chamada de rotina, mas logo a câmera capta um violento ataque de fúria dessa moradora contra os policiais e bombeiros. Agora com dois homens gravemente feridos, a equipe de resgate tenta sair do prédio, mas se vê completamente presa dentro dele por conta de uma quarentena decretada pelo governo espanhol. Sem saída, os repórteres, os bombeiros e os moradores agora estão à mercê de uma misteriosa infecção que se espalha rapidamente pelo edifício.  
Duas foram minhas surpresas com esse filme: 1º - o clima de tensão explode de uma hora pra outra, transformando o que parecia ser uma mera filmagem amadora protagonizada por uma apresentadora retardadinha numa desesperada luta pela sobrevivência dentro de um ambiente claustrofóbico e lotado; 2º - eu, que normalmente sempre fui cagão, não tomei um sustinho sequer e nem fiquei naquele clima de não dormir de luz apagada. Estou progredindo na vida.  
Óbvio que o fato de eu não ter pulado da cadeira não significa que o filme não seja uma excelente peça de terror e suspense, recheado de sangue e histeria. Além do clima bem construído, eu realmente gostei de cada um dos personagens, sejam eles repórteres, policiais, bombeiros ou moradores. E gostar de personagens num filme de terror significa sofrer junto com cada um deles, em detrimento da tradicional satisfação em ver um fulano ou outro morrendo dentro do velho formato americano de filmes de terror, que sempre constrói algumas dúzias de personagens odiosos unicamente pra isso. E falando em americano, eu realmente fiquei escandalizado com a produção do remake Quarantine, feito apenas um ano após o lançamento de [REC]. Simplesmente não encontro justificativa pra essas coisas. 
Infelizmente, o filme já termina dando o tom sobrenatural que predominará na sequência lançada em 2009 (que eu já assisti e já odiei). Em compensação, esse mesmo final representa o ápice do clima assustador e claustrofóbico do filme.

Nota: 10

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Filme nº 141: Moulin Rouge!

Numa demonstração de boa vontade com a causa do blog, decidi que por hora será melhor me focar apenas nos filmes que realmente valham a pena comentar. Isso provavelmente vai dar uma enxugada no desânimo de ter sempre aquela camada de filmes que de certa forma passaram batido. Foi mais ou menos por isso que pulei Flight (2012), o filme nº 140. É um filme interessante, mas não é nem tão bom a ponto de me surpreender e nem tão ruim a ponto de me irritar. Logo, todas as linhas de comentário que eu escreveria poderiam ser resumidas simplesmente em 'é um filme ok'. Mas vamos falar de Moulin Rouge.

The greatest thing you'll ever learn is to love and be loved in return.
Primeiro musical que assisto esse ano, o enredo de Moulin Rouge é simples na mesma medida que é batido, e isso já descontando toda a distorção da realidade que um musical tem por natureza. Christian (Ewan McGregor) é um poeta britânico que viaja à Paris em busca da única coisa que nunca conseguiu na vida: um amor verdadeiro. Quase simultaneamente à sua chegada, ele se integra acidentalmente a um grupo de artistas e atores boêmios, que o integram ao fascinante e agitado universo do Moulin Rouge, onde ele logo se apaixona por Satine (Nicole Kidman), a estrela do espetáculo. Ao confundir Christian com um rico aristocrata com quem ela deveria se deitar em troca de um pesado investimento no Moulin Rouge, Satine logo fica fica profundamente apaixonada pelo poeta sem dinheiro, colocando-se no dilema de decidir entre a salvação do Moulin Rouge ou o amor de sua vida. 
Eu não sou nem nunca fui um grande fã dos musicais, mas há de se admitir que se tem uma coisa que Moulin Rouge soube fazer bem é reproduzir o clima de embriaguez e eufórica boemia da Belle Époque parisiense. Apesar de menos frequentes do que eu esperava, as músicas cantadas ao longo do filme são adaptações  incrivelmente bem feitas de músicas pop do século XX, que dão um clima peculiar ao contexto de fins do século XIX. Por fim, não dá pra negar que os dois protagonistas parecem realmente muito apaixonados, por mais melosa e diabética que seja a paixão deles.
Pra mim o maior problema de Moulin Rouge foi ser predominantemente rápido e caótico, pra não dizer bagunçado. Se o objetivo do filme era me provocar um ataque de epilepsia, então meus parabéns. São poucos os momentos em que não há uma intensa troca de câmera, dificultando uma apreciação melhor dos detalhes das cenas. E isso é até um pouco compreensível, já que o filme não é tããão visualmente bonito assim, ao contrário do que eu sempre imaginei.

Nota: 8,5

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Filme nº 139: Super

Já tem um tempinho que estou refletindo acerca da possibilidade de parar com o blog e seguir o projeto na minha. Continuo comentando os filmes por um misto de inércia e bons filmes na fila que eu gostaria de comentar. Super é um desses bons filmes que me seguram um pouquinho mais, possibilitando se pá a percepção de que isso pode ser só uma espécie de crise da meia idade do meu projeto. Ou não.

All that takes to be a superhero it's the choice to fight evil.
O enredo de Super é maaaais ou menos parecido com a versão cinematográfica de Kick-Ass (da qual eu não gostei muito quando vi), contando a história de Frank (Rainn Wilson, o Dwight de The Office), um cozinheiro de fast food que conta nos dedos de uma mão só os momentos de genuína felicidade que teve ao longo de sua vida inteira. Um deles foi justamente o dia de seu casamento com Sarah (Liv Tyler), uma ex-dependente química que de um dia pra outro o largou para viver com um traficante de drogas. Completamente desolado, Frank começa a ter alucinações de natureza religiosa que o fazem começar uma luta física contra o mal. E assim surge o ridículo e raivoso Crimson Bolt, um super herói que sai às ruas com sua chave inglesa pronto para rachar o crânio dos criminosos. Não demora muito para esse nome ficar famoso e infame dentre os criminosos e a opinião pública, que o consideram um louco. Dentre eles, no entanto, está a jovem Libby (Ellen Page), que fica tão inspirada com o herói que decide fazer de tudo para tornar-se sua fiel escudeira. 
Você pode até pensar que parece o enredo de um filme cômico, assim como eu pensei. Mas, apesar de alguns momentos engraçados, Super é mais obscuro do que aparenta, visto que Frank é um homem desequilibrado e obcecado por uma paixão não correspondida. Libby, que assume o alter-ego de Boltie, não fica atrás, revelando-se uma pessoa psicótica que quer se aproveitar do anonimato pra exteriorizar toda sua violência em alguém, independente de ser bandido ou não. Já deu pra ver que o filme não é ingênuo, pois ambos fazem muita coisa errada por trás da máscara. 
Além do enredo, o que mais vale destacar é a atuação dos personagens. Rainn Wilson, que normalmente é visto em comédias, dá vida a um personagem sério e completamente fodido pela vida. Ellen Page, por sua vez, pra variar está naquele estilo 'garota nerd que usa cuecas e se gaba por isso'. Mas sua interpretação não deixa de ser impressionante, pois Boltie é uma das personagens mais psicopatas que conheci esse ano. No mais, temos Kevin Bacon no papel do grande vilão, enquanto a Liv Tyler passa completamente batida pelo filme.
O clima que predomina no filme é o de um humor negro não-forçado. É realmente engraçado, mas lamentavelmente engraçado. Assim como Kick-Ass, Super não pode ser confundido com um filme de criança só por conta da roupa colorida dos personagens. Tem bastante violência e até mesmo uma cena de sexo que vai figurar por muito tempo dentre as cenas mais bizarras que já vi no cinema. No mais, Super é um filme doente e imprevisível. O final na minha opinião foi um misto de choque e frustração, esta última compensada pela rara e ligeiramente prazerosa sensação de ser sacudido por um filme. 

Nota: 10

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Filme nº 138: Malditas Aranhas

A julgar pela audiência do blog, todos estão tão cansados de ler meus posts quanto eu estou cansado de escrevê-los. Mas não que eu esteja nessa pelo blog (ou por vocês). Hoje (por hoje leia-se: muito tempo atrás) eu fiz um retorno casual ao mundo do trash, o qual não visitava desde O Ataque dos Vermes Malditos. Pelo nome de ambas as películas, vê-se que esse universo soa bem fascinante. E eu garanto que ele é.

Get back, you eight legged freak!
O que o enredo de Malditas Aranhas tem de clássico, ele tem de simples. Na pequena cidade de Prosperity, um laguinho é contaminado por um galão de lixo tóxico caído de um caminhão. Logo um ávido criador de aranhas das redondezas nota que os grilhos que ele pegou por ali estão fazendo com que suas aranhas comecem a crescer em proporções rápidas e monumentais, até o momento em que elas já são grandinhas o suficiente para não mais caber num aquário e não mais ver seu criador como outra coisa além de comida. Crescendo sem para, os aracnídeos logo começam a migrar para Prosperity, onde a comida é abundante e do tamanho adequado.
Como deu pra notar, Malditas Aranhas é o tipo de filme que não requer muita inteligência nem pra bolar e tampouco pra assistir. Nunca foi novidade no cinema que coisas como mutações químicas e genéticas deem carta branca pra você criar o tipo de bizarrice que quiser. No caso de Malditas Aranhas há ainda uma variedade interessante nos 'monstros' a serem enfrentados, como as aranhas saltadoras, as aranhas que soltam teia, as tarântulas gigantes e a terrível aranha subterrânea (!!!). E pra dar ao expectador a oportunidade de vê-las a todo vapor, é óbvio que os personagens precisam ser um pouquinho menos espertos do que normalmente seriam.
E falando em personagens, temos a doce surpresa de ver Scarlett Johansson no auge de sua puberdade, interpretando a filha da xerife. Além dela, vale destacar David Arquette (o xerife da franquia Pânico) interpretando o protagonista caipira rebelde, e personagens mais cômicos como o hippie conspiratório e o policial bonachão.
Em termos de enredo, o plot que serve de fundo não tem muito o que destacar. É basicamente um punhado de pessoas com alguns conflitos pequenos que de uma hora pra outra precisam atirar em aranhas tão grandes quanto elas. E nem nisso o filme é muito sério, visto que vários momentos parecem saídos de um desenho animado, enquanto as aranhas (com o auxílio de seus gritinhos irritantes) são constantemente humanizadas pra dar aquele toque cômico ao massacre.  

Nota: 7,0

terça-feira, 4 de junho de 2013

Filme nº 137: Twenty Bucks

Com nada menos do que DEZ filmes já assistidos e esperando para serem comentados, eu diria que esse blog nunca esteve numa situação de atraso tão grande. Seria muito justo colocar a culpa nos meus professores, mas eu acho que estou chegando numa fase menos animada do projeto, o que era de se esperar, afinal de contas é difícil manter a empolgação pra assistir um filme quando você já fez isso nos 145 dias anteriores. Mas vamo que vamo.

Única imagem do filme que encontrei. Justamente a dos melhores personagens.
Partindo de uma premissa semelhante da de Cigarettes & Coffee, Twenty Bucks conta inúmeras histórias de diversas pessoas sob a perspectiva de uma simples nota de vinte dólares, do momento em que sai do caixa eletrônico até sua destruição. Por contar com mais tempo e recursos que o curta-metragem, Twenty Bucks obviamente oferece um enredo muito mais amplo, elaborado e populoso. Por conta da quantidade de histórias abordadas no filme, acho que seria um exercício um tanto quanto longo descrever cada uma delas, sem contar com a forte possibilidade de eu estragar a experiência dos que se interessarem pelo enredo. Então contentem-se com a premissa.
Traduzido no Brasil como 'Cash: em busca do dólar' (puta merda mas esses caras não dão uma dentro), Twenty Bucks realmente nos oferece uma experiência original e interessante ao nos fazer entrar em contato com tantos núcleos, personagens e histórias diferentes num único filme. E o melhor é que nenhum deles se sobrepõe ao outro, por mais que eu tivesse tido essa impressão errônea no início do filme. Não existem protagonistas, nem vilões e nem mocinhos. Existe apenas a nota de 20 dólares e as dezenas e dezenas de pessoas que tem sua vida afetada por ela, cada qual marcando a nota fisicamente de uma forma diferente, fazendo que ao fim do filme ela carregue em si os vestígios de todos os seus usuários (um risco de caneta, uma marca de café, uma gota de sangue, etc).
Acho que por fim vale destacar o grande elenco do filme, repleto de atores em alta na época (1993), dentre os quais eu destaco Brendan Fraser, Steve Buscemi, David Schwimmer e Christopher Lloyd (que na minha opinião interpreta o melhor personagem, dentro do melhor núcleo.  

Nota: 8,5

sábado, 1 de junho de 2013

Filme nº 135: The Fall

Sábado à noite sem dúvida é o momento perfeito pra falar sobre filmes de arte, não é? Eu realmente não sei se é adequado caracterizar The Fall dessa forma, visto que por filme de arte as pessoas normalmente entendem um filme chato de quatro horas onde não se entende nada porque, afinal de contas, era profundo demais. The Fall está longe disso. Mas assistir o filme e não considerá-lo uma legítima obra de arte no sentido estético-visual da expressão é algo impossível.

And then they swore that they would be responsible for Governor Odious's death.
O enredo de The Fall se passa num hospital de Los Angeles na década de 1920, onde Alexandria, uma garotinha de nacionalidade não mencionada (provavelmente romena, como a atriz), se recupera de um braço quebrado. Curiosa e hiperativa, Alexandria acidentalmente conhece Roy Walker, um dublê de cinema que corre o risco de ficar paralítico após uma tentativa de suicídio. Interessado tanto em companhia como em conseguir alguns medicamentos através de Alexandria, Walker começa a inventar uma épica história na qual cinco heróis travam uma longa e árdua jornada pelo mundo para lutar contra a tirania de um governante cruel. São eles: um bandido mascarado espanhol (depois transformado em francês), um italiano especialista em explosivos, um ex-escravo, um nobre indiano e Charles Darwin (?!). Sendo uma história de improviso, seu enredo é bem solto e sujeito à mudanças conforme o desejo do narrador ou da própria Alexandria.
O aspecto mais incrível do filme são seus cenários exuberantes, seja em belas paisagens naturais ou em suntuosos palácios de todos os estilos, para os quais o filme contou com filmagens em mais de vinte países. Aliados à beleza dos cenários estão o figurino peculiar, a incrível trilha sonora e um excelente trabalho de direção que faz com que cada cena do filme seja uma verdadeira obra de arte. Por fim, os personagens tanto do conto quanto do mundo real são muito bem construídos, os primeiros sendo bem distintos e cheios de idiossincrasias, enquanto os segundos são bastante humanos e autênticos, com destaque à Alexandria, que, em vez de ser um prodiginho chato, age como criança e faz coisas de criança.
Da equação longo-chato-confuso dos tais filmes de arte, The Fall, na minha opinião, escapa dos três. Primeiro que o filme nem chega a ter duas horas, enquanto que o desenrolar do seu enredo não é nenhum mistério, sendo até bastante simples. Por fim, apesar de não ser das mais agitadas, a história é perfeitamente capaz de provocar risos e lágrimas ao mesmo tempo, rendendo ao final uma satisfação que dificilmente eu teria se sentisse que o filme fora uma perda de tempo.   

Nota: 9,5

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Filme nº 134: Strangers On A Train

É engraçado ter assistido inadvertidamente a paródia de um filme antes de assistir o filme primordial. A vítima, é claro, acaba sendo o último, pois o enredo já não parece tão original quanto deveria. Esse foi o caso de Strangers on a Train, filme de Alfred Hitchcock cujo enredo descobri sem querer na comédia Throw Mamma From The Train. Mas isso não chegou a estragar o filme.

You do my murder, I do yours. 
Strangers On A Train conta a trágica história resultante de um mero encontro entre dois estranhos durante uma viagem de trem. Guy Haines é um tenista em ascensão que está tendo problemas com sua ex-esposa interesseira que se recusa a assinar o divórcio pra que ele possa assumir seu relacionamento com a filha de um senador. No meio de uma viagem de trem, ele conhece Anthony Bruno (cujo ator infelizmente morreu pouco após o filme), um playboy que julga ter inúmeras ideias para um crime perfeito. Uma de suas teorias envolve dois homens estranhos entre si que concordam em cometer o assassinato um do outro, o que, no caso deles, seria Bruno assassinar a incômoda esposa de Haines enquanto este assassinaria seu pai. Haines obviamente não leva o desconhecido a sério e, ao ser perguntado se gostava da ideia, diz que 'sim' sem pensar. O que Haines não desconfiava era que havia acabado de dar o aval para Bruno colocar sua ideia em prática. Ao descobrir pouco depois que sua esposa havia sido assassinada, Haines começa a ser perseguido por Bruno, que cobra o cumprimento do restante do 'trato' sob ameaça de incriminar o tenista pelo assassinato da esposa, para o qual não lhe faltava motivos.  
Lançado em 1951, Strangers On A Train desbanca o original de The Ladykillers no posto de filme mais antigo que assisti esse ano (e se pá nessa vida). Mas não deu pra sentir qualquer falta dos recursos que o filme por ventura não possui. Pelo contrário, eu realmente fiquei impressionado com algumas atuações, enquanto a aparência do filme é impecável, contando com alguns recursos de filmagem bem interessantes, especialmente durante o assassinato de Miriam. O enredo também é bastante criativo e, apesar de ter entrado em contato com a paródia antes do original, o mérito vai todo para Hitchcock, que faz questão de transparecer seu próprio fascínio pessoal por assassinatos através de seus personagens, que conversam entusiasticamente sobre o tema.
Mas justiça seja feita: o filme possui muitos defeitos. Além da óbvia distorção da realidade feita para tornar possível a impunidade de Bruno ao longo do enredo, o filme se alonga muito mais do que o necessário para resolver seus próprios conflitos, o que acaba resultando num final absolutamente maluco, e não no bom sentido.

Nota: 8,5

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Filme nº 133: O Ditador

Foi preciso um pouco de coragem da minha parte para me aproximar de outro filme do Sacha Baron Cohen depois do fatídico Brüno. Mas um homem que se propõe a ver um filme por dia precisa passar por cima dos próprios medos e preconceitos, e aqui estou eu. Pro meu alívio, O Ditador está muito mais para o lado de Borat do que para o lado de Brüno, abandonando muitos elementos constrangedores presentes em ambos. Mas, bom, continua sendo Sacha Baron Cohen.

The heroic story of a dictator who risks his live to ensure that democracy would never come to the country he  so lovingly opressed.
O Ditador narra a história do Almirante General Aladeen, o excêntrico e ditatorial líder da fictícia República de Wadiya, que, por conta de fortes suspeitas acerca do caráter armamentista do programa nuclear Wadiyano, é chamado à Assembleia Geral da ONU em Nova York para prestar esclarecimentos. Chegando aos Estados Unidos, o General Aladeen é vítima de uma fracassada tentativa de assassinato que coloca um sósia no seu lugar para a assinatura de uma nova constituição para Wadiya. Escandalizado por essa tentativa de implementar uma democracia em seu país, o desbarbado general Aladeen precisa encontrar uma forma de denunciar essa conspiração enquanto se encontra perdido na cidade de Nova York, tendo como únicas companhias uma hippie pacifista que nem desconfia de sua verdadeira identidade, e um cientista nuclear que ele anteriormente havia condenado à morte.
Mesmo com o enredo bem diferente dos seus antecessores, O Ditador mantém o característico estilo do estrangeiro exótico e sem modos que vem para os Estados Unidos conhecer o estilo de vida americano e divulgar o seu. Mesmo assim, existem muitas diferenças importantes, como o abandono do estilo documentarístico em direção a um enredo mais próximo de uma estória de cinema. Também foi abandonado um aspecto bastante polêmico do estilo de Sacha Baron Cohen, que eram as entrevistas e filmagens com pessoas reais colocadas inadvertidamente em situações ridículas. E o pior de tudo é que o filme não sobrevive bem sem esses elementos.
O protagonista sem dúvida é o ponto alto do filme. Mandão, tarado, racista e leviano; Aladeen é claramente baseado em Muammar Khadafi, com uns toques de Kim Jong Il e Mahmud Ahmadinejad. Mas ele é basicamente a única coisa que vale a pena, já que a comédia é baixa, retardada e repleta de piadas americanas demais; enquanto o enredo é clichê e previsível. Isso porque ainda tem a tradicional tonelada de cenas constrangedoras que me fazem agradecer por não ter ido ver o filme no cinema.  

Nota: 6,5

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Filme nº 132: 30 Minutos ou Menos

Meu Deus, como eu estou atrasado com essas postagens. Eu olho os filmes que ainda preciso comentar e me dou conta do tempo que já se passou desde que os assisti, o que é péssimo para os eventuais filmes legais que eu realmente gostaria de elogiar. Um deles é exatamente 30 Minutos ou Menos, uma humilde e típica comédia de fim de semana que cumpre direitinho o seu papel.

Thank you for fucking a regular guy
30 Minutos ou Menos narra a história de um dia particularmente complicado na vida de Nick (Jesse Eisenberg), um entregador de pizza sem grandes perspectivas de vida que de uma hora pra outra se torna refém de uma dupla de aspirantes ao crime que querem terceirizar um assalto à banco. Pra isso, eles amarram uma bomba relógio em volta de Nick e o obrigam a voltar em 10 horas com pelo menos cem mil dólares. Desesperado, Nick decide recorrer à Chet (Aziz Ansari), seu melhor amigo, com quem a pouco havia cortado relações por uma série de discussões.
Como deu pra perceber, o enredo do filme é bem maluco, o que proporciona uma série de situações divertidas criadas pelo texto engraçado e pela química entre os personagens de Nick e Chet. Aziz Ansari em especial já era um ator que eu curtia bastante desde Parks and Recreation, e seu estilo folgado, arrogante e materialista continua sendo a maior fonte de riso onde quer que ele esteja.
Ok, eu gostaria de lembrar de mais coisas pra falar aqui. 30 Minutos ou Menos não tenta ser nada além do que se propõe, sendo um excelente filme pra se entreter e passar o tempo, nem mais e nem menos. Ultimamente tenho assistido muitos filmes assim, o que é leve pra mente mas dificilmente deixa algum legado em você. Vou tentar retornar para os filmes mais marcantes de agora em diante.

Nota: 9,5

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Filme nº 131: A Single Man

É complicado fazer um post a respeito de um filme bom que você queria ter gostado. A Single Man (cujo nome em português, Direito de Amar, apesar de evocar um ar de luta pelos direitos homossexuais, pra variar não tem nada a ver com nada) é um filme completamente depressivo que não deveria ser assistido num estado outro que não o de felicidade plena. Por não estar no melhor dos meus dias, o filme acabou não colaborando nada com meu estado de espírito.

If it's going to be a world with no time for sentiment, Grant, it's not a world that I want to live in.
A Single Man é um filme baseado no livro homônimo de Christopher Isherwood, e conta a história de George Falconer, um professor britânico homossexual na casa dos cinquenta anos que perdeu num acidente de carro seu parceiro (esse termo é bem eufemístico, namorado, marido, peguete, leiam da forma que quiserem) com quem vivera por mais de dezesseis anos. À época da morte, a família sequer quis comunicá-lo do ocorrido e não o convidou para o enterro, o que faz com que George entrasse num profundo estado de depressão. Passados oito meses, George constata que não consegue mais levar a vida adiante e decide preparar seu suicídio, mas os encontros e reencontros que tem com várias pessoas na véspera faz com que ele tenha um último contato com a vida.
Acho que só o enredo já dá um bom panorama do potencial depressivo de A Single Man. Não bastasse isso, a fotografia do filme é propositalmente cinzenta durante a maior parte do tempo, como parte de um interessante trabalho de cores feito em cima dos sentimentos do protagonista, variando entre os momentos cinzentos e os momentos coloridos.  Fora isso, as interpretações de Colin Firth e Julianne Moore são os únicos destaques num mar de personagens irritantes ou irrelevantes.
Como eu disse no início, o filme realmente é muito bom, mas é difícil sair alegre dele. Ainda mais por conta do final -o qual obviamente não vou revelar-, que ainda por cima me deixou puto. No mais, é isso que eu tenho pra comentar, pois já esqueci quase tudo nesses sete dias que separam a postagem da visualização do filme.

Nota: 7,0   

sábado, 25 de maio de 2013

Filme nº 136: Guia do Mochileiro das Galáxias

Aqui estou eu novamente furando a fila de postagens pra tentar socializar seja lá com o que as pessoas estejam venerando no dia. Hoje aparentemente é o décimo dia do orgulho nerd esse ano, dessa vez por conta do Towel Day, homenagem à franquia d'O Guia do Mochileiro das Galáxias. Eu sei que eu deveria estar lendo os livros pra tentar fazer uma homenagem à altura, mas o filme é realmente o melhor que posso fazer no momento. E depois não digam que eu não estou tentando gostar desses trem aí que vocês gostam. 

Don't Panic.
O (filme do) Guia do Mochileiro das Galáxias conta a história de Arthur Dent, um homem comum que de uma hora pra outra vê sua casa ser destruída para a construção de uma via, sem a menor desconfiança de que o planeta Terra estaria a poucos minutos de um destino semelhante. Pouco antes do massivo ataque alienígena que destruiria o planeta, Arthur recebe a visita de seu amigo Ford Prefect, que lhe oferece um jeito de escapar da Terra pouco antes de revelar ser de outro planeta. Após a fuga de última hora, a dupla se encontra à mercê dos terríveis e burocráticos Vogons, percorrendo o universo com um antigo amor frustrado de Arthur, o egocêntrico presidente da Galáxia e um robô depressivo (sempre tenho medo de ser simplista nessas descrições do enredo de filmes cheios de fãs fanáticos ao ponto de criarem seu próprio 'feriado').
Pra minha surpresa, o filme se revelou muito menos juvenil do que eu esperava, sendo realmente algo predominantemente divertido e fácil de se gostar. O universo criado por Douglas Adams sem dúvida é o elemento mais interessante do filme, além dos belos efeitos e dos personagens cheios de idiossincrasias; que justificam a legião de fãs tão fiéis. Quando bati o olho no elenco, já imaginei que impressionaria qualquer fingirl (não existe um termo masculino para fangirl e nem uma forma masculina de sê-lo, embora existam adeptos '''homens''') tendo Martin Freeman, Zooey Deschanel, Alan Rickman (como voz do robô depressivo) e John Malkovich (no caso do Malkovich a fangirl era eu).
É bom constatar que nem tudo aquilo que todos amam enquanto eu nunca tive interesse de acompanhar é superestimado. Fiquei com essa impressão com vários filmes classicões, mas O Guia do Mochileiro das Galáxias foi realmente uma experiência agradável e divertida que eu gostaria de ter tido na adolescência através dos livros. Não podendo fazer nada a respeito disso, só me resta pegar os livros emprestados de alguma alma boa e descobrir o que a franquia tem de melhor.

Nota: 9,0