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sábado, 30 de março de 2013

Filme nº 85: Apenas o Fim

O segundo filme que consegui assistir durante minha correria de feriado já não é um curta metragem, mas, comparado aos filmes comuns, é relativamente curto. Só não é rápido, porque a essa altura todo mundo já conhece meu drama dos filmes curtos que tomam mais de duas horas pra serem assistidos. Mas enfim, também já estava na hora de retornar ao cinema nacional. Escolhi outra produção independente (sim, estou bastante hipster esses dias) da qual eu não esperava muita coisa. Acabei me surpreendendo. 

E agora? Vivemos o resto de nossas vidas.
Apenas o Fim retrata a última hora do relacionamento de um casal que, apesar de todas as boas experiências que tiveram juntos, não deu certo. Tudo começa quando Adriana inesperadamente anuncia para seu namorado Antônio que está indo embora para sempre e que eles terão uma hora para se despedir. Antônio, apaixonado e consequentemente o elo mais fraco do relacionamento, tenta utilizar essa hora pra fazer com que ela mude de ideia, e assim os dois acabam tendo uma longa conversa sobre o próprio relacionamento, sobre o que será de cada um daqui pra frente e, o que mais caracteriza o filme, sobre diversas banalidades, sem nunca perder o tom espontâneo e natural.
Pra quem esperava só uma comédiazinha romântica rápida, o filme me agradou bastante. Seus personagens são bem verdadeiros, com jeitos e manias normais, capazes de oscilar entre o bom humor e a melancolia. Há também uma extensa abordagem de inúmeros tópicos nerds, o que, se fosse hoje, eu acharia manjadíssimo, mas, como o filme é de 2008/2009, o tema ainda era ligeiramente original. Eu confesso que fiquei bem incomodado com a leviandade com que os dois (e principalmente ela) trataram do assunto, mas eu sei que isso existe.
Apenas o Fim foi gravado inteiramente na PUC-Rio e por alunos da PUC-Rio, contando com a participação breve de Marcelo Adnet e Nathalia Dill, ambos ainda em começo de carreira. As cenas são um misto da caminhada casual que o casal faz pelo campus e diversos flashbacks de momentos e conversas que eles tiveram no passado. Algo que me agradou muito como crítico mas provavelmente não como pessoa foi o fato do final não fugir aos propósitos do filme com alguma solução mágica para agradar os fanáticos por finais felizes. Pois é, la vida és dura.

Domingo eu encerro esse calvário e provavelmente já voltarei ao ritmo de postagens diárias sobre filmes com mais de 1h20. Até lá.

Filme nº 84: Cigarettes and Coffee

Como eu havia previsto, meu projeto sofreu um pequeno atraso durante esse feriado por conta das 0 horas disponíveis que eu to tendo. Isso me forçou a dar uma leve e completamente justificável trapaceada no meu modus operandi: assisti um curta metragem de vinte e poucos minutos. O curta escolhido foi um filme tão desconhecido a ponto de eu só conseguir encontrá-lo no youtube numa qualidade de fita cassete de casamento dos pais. Mas né, a gente trabalha com o que tem (hoje por exemplo não temos imagens do filme).
Cigarettes and Coffee é um curta de 1993 responsável pelo alavancamento da carreira do diretor Paul Thomas Anderson, o qual possui uma filmografia bem interessante que ainda pretendo explorar. Ele conta a história de cinco pessoas cujas vidas, dentre outras coisas, estão interligadas por uma simples nota de vinte dólares que cumpre uma função diferente nas tragédias pessoais e eventos que trouxeram essas pessoas ao Café no qual o filme se passa.
Bom, com vinte minutos de filme de baixo orçamento, não existe muita coisa a se comentar. O texto e as atuações sem dúvida são os dois baluartes da produção, visto que o filme dispensou a maior parte dos aspectos técnicos. Seus personagens, apesar do pouco tempo disponível para apresentar um background mais elaborado, são capazes de oferecer uma boa amostra do que eles são e da forma como pensam. São eles: um homem desesperado e arrependido tentando explicar sua situação para um outro homem mais velho, um casal em crise por conta de um grande erro cometido pela mulher e um quinto homem conversando num telefone público. 

Não querendo expor o enredo completo do filme aqui (o que seria completamente possível), acho que é tudo o que eu tenho a falar. Curta metragem, curta postagem.   

quarta-feira, 27 de março de 2013

Filme nº 83: Persepolis

Pra quem anda tendo cada vez menos tempo para filmes, mais uma vez caí no conto do filme curto que leva mais de duas horas pra ser assistido. Dessa vez, no entanto, eu tive a sorte de escolher uma animação original, divertida e  bastante política. Pra combinar com meu tempo apertado, vou ter que escrever um comentário bem reduzido, o que será uma grande injustiça com Persepolis.

War. Revolution. Family. Punk Rock
Persepolis é uma animação francesa que narra a vida de Marjani Satrapi, ou simplesmente Marji, da sua infância no Irã revolucionário até seu exílio permanente na França. Sua trajetória está intimamente ligada a inúmeros aspectos históricos e culturais do Irã nas décadas de 1970, 1980 e 1990, como a derrubada do Shah, a tomada do poder pelos fundamentalistas islâmicos, a gradual rejeição de todo e qualquer tipo de cultura ocidental, a longa e sangrenta guerra contra o Iraque e a vida das mulheres iranianas dentro e fora do país.
Por ser uma animação, o filme possui inúmeros recursos visuais interessantes, como a mistura de sonhos e imaginação com a realidade. Dentre essa mistura, as melhores provavelmente são as conversas entre Marji e Deus, ocorridas principalmente durante sua infância. E falando em infância, a pequena Marji sem dúvida é a melhor personagem do filme, com seu jeito curioso e ingenuamente revolucionário. Porém, o fato de quase todos os personagens do filme falarem francês o tempo inteiro me perturbou, ainda mais quando se tratava de guardas revolucionários, do Shah, e do próprio Aiatolá. Mas esse é um aspecto minúsculo comparado a tudo o que o filme tem de interessante.
Apesar de encerrar a parte inocente e engraçada do enredo, o crescimento de Marji trata de inúmeras questões mais sérias, como o véu, casamento e feminismo; além de explorar a guerra Irã-Iraque, pouquíssimo abordada no cinema e na cultura em geral. A protagonista é um desses personagens por quem você se cativa rapidamente, pois ela é uma pessoa inteligente, carismática, engraçada e, acima de tudo, humana. Além do que, Marji possui uma voz muito fácil de se apaixonar. A simplificação da vida amorosa dela, por sua vez, foi um grande favor ao expectador, já que ela sempre se relacionou com homens fracos e sem graças.  
A abordagem de três fases históricas diferentes do Irã também é feita de uma forma muito crítica e interessante, denunciando a crescente repressão política e cultural do regime islâmico sem deixar escancarado que se trata de um filme estrangeiro. Por se tratar de uma história real feita pela Marjani Satrapi real, o espírito do filme é bastante iraniano.

Valeu muito a pena dormir quase 3h da manhã por conta desse filme.

terça-feira, 26 de março de 2013

Filme nº 82: Deixe Ela Entrar

Não tem nada que eu goste mais do que assistir filmes muito hypados e confirmar minha sempre constante suspeita de que eles não são tão bons assim, isso quando não chegam a ser ruins. Eu não estava pensando isso de Deixe Ela Entrar. Na verdade, estava até com uma expectativa boa com ele. E antes que comecem a pensar que eu achei o filme uma bosta, eu digo que realmente consigo reconhecer que o filme é bom. Eu só não consegui desenvolver a menor química com ele, e estaria mentindo se dissesse que gostei.

I'm not a girl, you know..
O filme conta a obscura história de Oskar, um garoto solitário e vítima de agressões na escola que acaba conhecendo uma estranha garota chamada Eli, a qual acaba de se mudar para o apartamento ao lado junto de um homem misterioso. Apesar da relutância e dos avisos de Eli, os dois acabam desenvolvendo uma singela amizade, que não se abala nem com as evidências de que Eli possui origens sinistras e ligações com uma série de assassinatos que começam a ocorrer no antes pacato subúrbio de Estocolmo.
Deixe Ela Entrar é um filme bem lento que une a inocência da infância/pré-adolescência com a obscuridade e violência dos vampiros e sua necessidade de se alimentar do sangue alheio. Ele não conta com nenhum personagem muito marcante, já que os dois protagonistas são, bem, apenas crianças. Não que isso seja regra, já que assisti inúmeros filmes protagonizados por crianças bastante expressivas, parece mais ser um problema endêmico desse filme. Muitos personagens possuem papeis confusos ou inconstantes, que provavelmente podem estar mais bem explicados no livro, mas não aqui. O final, por sua vez, foi surpreendentemente bom e trágico, com um nível de violência que eu não esperava mesmo levando o decorrer do filme em conta.
O filme também não poderia ser mais 'europeu' no que diz respeito a uma certa abordagem da sexualidade dos personagens. Eli, apesar de ter um corpo de uma garota de 12 anos, é mais velha do que ela própria pode conceber, e em vários pontos do filme fica claro que ela sabe manejar a própria sexualidade. Isso não é algo muito agradável pra todos os públicos -eu mesmo tive que soltar uns 'CALMA CARA'-, mas vai entender esse hábito europeu.
Enfim, acho que isso é tudo que consigo falar. É sempre difícil tecer comentários de filmes que não me cativaram. Assisti Deixe Ela Entrar de forma muito descontínua, pausando o filme o tempo inteiro. É um enredo realmente interessante, mas não consegui me envolver.

Daqui até domingo vai ser bastante difícil manter os filmes e o blog, então é bastante possível que ocorram alguns atrasos (isso se eu não enlouquecer e abandonar o blog temporariamente).

segunda-feira, 25 de março de 2013

Filme nº 81: O Colecionador de Ossos

Aqui estou eu outra vez recorrendo a um desses filmes que vi há tantos anos que é difícil lembrar de algo além do enredo e de e alguns poucos pontos marcantes. É sempre bom dar de presente à sua memória as peças que lhe faltavam para fazer as ligações entre os vários flashes desconexos que ela mantinha guardados. Esse é o caso d'O Colecionador de Ossos, cujo nome acabou surgindo durante uma conversa, me dando vontade de passar o filme a limpo. 

Angelina Jolie no comecinho da carreira interpretando personagens sem graça
O Colecionador de Ossos é baseado num romance policial de mesmo nome e narra a história de Lincoln Rhymes (Denzel Washington), um célebre detetive tetraplégico, e Amelia Donaghy (Angelinda Jolie), uma policial talentosa que esbarra numa elaborada cena de crime. Os dois acabam unidos pela investigação de um misterioso assassino em série que sequestra suas vítimas com um táxi e sempre deixa pistas sobre o próximo assassinato na cena do crime (algo nada inédito). Enquanto Rhymes é um homem cético e ligeiramente niilista devido sua condição quase vegetal, Donaghy é uma mulher assombrada pelo próprio passado e que tenta negar sua propensão para a ciência forense.
O que mais me surpreendeu nesse filme foi a série de aspectos quase amadores que ele contém. Pra mencionar o mais presente, as cenas feitas dentro de carros, algo constante num filme onde o assassino captura suas vítimas num táxi, são feitas daquele modo antiquado em que a cena é gravada dentro do veículo parado e mais tarde acrescentam o cenário se movendo nas janelas, algo muito esquisito num filme de 1999.  Depois disso, também temos vários resultados de direção e roteiro pouco inspirados, como diálogos, ações e movimentos de câmera.
O enredo dedica bastante tempo a intriguinhas policiais que obviamente nunca são tão interessantes quanto os assassinatos e a investigação deles. Foi difícil enxergar alguma química entre o Denzel Washington e a Angelina Jolie, seja na relação mestre-aprendiz ou mesmo num possível interesse amoroso. Outro aspecto que me incomodou bastante no filme foi o sistema de comunicação utilizado entre Rhymes e os demais policiais, com o qual ele podia se comunicar com qualquer policial e vice-versa (e diversas vezes ainda havia o chefe de polícia escutando isso seja do seu escritório seja de uma viatura) independente deles estarem no subterrâneo. Seja lá qual tenha sido essa tecnologia, ela é muito bem vinda em 2013.
No mais, o filme não exige muito pensamento do espectador, já que ele mastiga todo o raciocínio pra você. Apesar disso, a revelação da identidade do assassino foi bastante inesperada, embora ele tenha deixado de lado toda a inteligência e prudencia que teve ao longo do filme pra agir estupidamente no fim. Suas motivações também não foram muito convincentes, mas isso já é algo que eu não consigo comentar sem spoilers.

sábado, 23 de março de 2013

Filme nº 79 e 80: Harry Potter e as Relíquias da Morte

Não era minha intenção deixar de assistir o filme de ontem, foi apenas um acidente de percurso provocado por um compromisso que eu não lembrava que tinha. Mas como pra tudo nessa vida há remédio, eu já consertei a situação hoje mesmo. Decidido a por fim à minha anacrônica situação de nunca ter assistido o final da franquia Harry Potter, os dois filmes do sétimo livro foram a escolha perfeita pra hoje. Sempre fui um fã contido de Harry Potter. Gosto muito da franquia, mas evitei coisas do tipo me fantasiar de bruxo, escrever fanfics, fazer citações do livro, ser retardado, beijar rapazes e etc. Só alertando que essa provavelmente será a primeira e única aparição da franquia por aqui (já vi todos os outros filmes umas 50 vezes).

It all ends here
Partindo do pressuposto de que todos estão familiarizados com o enredo de Harry Potter, vou pular o tradicional parágrafo explicativo. Pra começar, por que diabos eu nunca terminei As Relíquias da Morte? Infeliz que sou, assisti a parte 1 no cinema com um grupo de amigos e, em nome da fidelidade, fiquei de assistir a parte 2 com esse mesmo grupo. Esse evento nunca aconteceu e fiquei dois anos sem saber como foi a conclusão cinematográfica da franquia. Bom, vamos começar falando da primeira parte.
A experiência de rever a primeira parte até que manteve o tom de surpresa pelo fato de hoje eu ter assistido legendado. Eu sempre assisti HP dublado pela tradição (também nunca fui fã do sotaque britânico), porém a constante troca de dubladores em certos personagens foi um lobby competente para terminar de ver legendado. A surpresa também se manteve por conta do tempo que fiquei distante da franquia, tanto dos livros quanto dos filmes, mas isso acabou me fazendo ficar um pouco perdido em alguns detalhes.
De toda forma, assim como gostei da parte 1 no cinema, também gostei dela agora. A vida fora de Hogwarts realmente deu um toque interessante ao fim da franquia, e o ar fresco até que fez bem, o que balanceia a ausência da maior parte do enredo 'clássico'. As cenas de ação e os plot twists são um dos melhores da franquia inteira, terminando de forma a gerar uma expectativa enorme para a Parte 2. Também é marcante a presença do clima de horror que a franquia veio adquirindo desde o Cálice de Fogo, tornando o filme bastante sério em compasso com a maioridade recém adquirida de Harry e seus amigos.
Bom, agora vamos à Parte 2. Pra minha decepção, a segunda parte é bem mais solta que a primeira, deixando muitas coisinhas sem explicação. Harry Potter sempre teve o enredo com uma enorme, senão quase infinita, capacidade de trapacear. Se algo até então não era possível, invente um feitiço ou uma criatura mágica que consiga. O problema é que nem esse potencial todo foi capaz de salvar a série de furos e coisas estranhas que presenciei nesse filme.
A segunda parte supostamente contém a maior parte da ação d'As Relíquias da Morte, e com essa ação toda parecem vir uma série de erros e babaquices comuns aos filmes que giram em torno disso. Havia tanta coisa acontecendo de forma repentina e sem base que a quantidade de 'mas o que's que eu soltei durante o segundo filme foi difícil de contabilizar. Como fã de Harry Potter e leitor de todos os livros, eu esperava muito mais de cenas como o -SPOILER ALERT- beijo de Rony e Hermione (aconteceu absolutamente do anda e sem a menor razão), a grande batalha de Hogwarts (um monte de alunos correndo em círculos pelo castelo que nem umas baratas tontas), a decapitação da Nagini (perdeu a chance de acontecer no momento certo) e a morte do Voldemort.
Aparentemente, as energias foram quase todas gastas no primeiro filme. Dessa forma, infelizmente, o fim da franquia Harry Potter começa bem, mas termina mal. E perdão pelo post simplista pra essas quase cinco horas de filme.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Filme nº 78 Le Prénom

Ontem foi um dia particularmente difícil pra selecionar um filme. Vasculhei toda a pasta de downloads e nada parecia despertar meu interesse imediato. Então concluí que o que eu queria ver era justamente a única coisa que não havia lá: uma comédia leve. Afinal de contas, depois de dias de superproduções épicas, de enredos intrincadamente geniais e de alguns dramas, tudo o que eu precisava era dar uma relaxada. Em total contraste ao filme anterior, decidi assistir a comédia francesa Le Prénom (no Brasil, 'Qual é o nome do Bebê').

Alexandre? Albert? Arthur? Alban? Agnan? Artemis?
Le Prénom retrata um fatídico jantar feito em homenagem à Vincent, um quarentão com um mórbido senso de humor que acaba de descobrir o sexo do seu primeiro filho. No entanto, sua irmã, uma professora da rede pública; seu cunhado, professor da Sorbonne, e seu amigo de infância, um trompetista profissional; são negativamente surpreendidos pela escolha do nome do bebê. A discussão em torno do nome acaba tomando dimensões inesperadas, trazendo à tona inúmeras questões sensíveis ao grupo e jogando uns contra os outros.
O início do filme e a apresentação dos personagens contam  com um estilo de narração muito semelhante ao visto n'O Fabuloso Destino de Amélie Pouláin (uma das minhas poucas referências em cinema francês, infelizmente), me fazendo pensar que eu teria que me acostumar à frequente participação do narrador. Mas não foi o caso. Apresentados os personagens, o filme se mantém completamente focado em excelentes diálogos feitos de forma rápida e dinâmica, o que seria uma crítica positivíssima se eu fosse francês, mas infelizmente sou apenas um aluno do básico 1 e sofri um pouco pra acompanhar o texto. Passando-se quase que inteiramente dentro do apartamento de Pierre e Élisabeth, o filme muitas vezes parece ser um desses gravados todos num único take, algo que, dada a força do elenco, eu não duvidaria ser possível.
Depois dos diálogos, os pontos mais fortes do filme sem dúvida são seus personagens marcantes, apoiados pelo talentoso elenco. Com todos muito bem amadurecidos e educados, a discussão desenvolve-se de forma bastante divertida e inteligente, auxiliada pelo caráter extremamente temperamental de cada um dos personagens. No começo é fácil pensar que toda a briga seria dominada pelos egocêntricos Vincent e Pierre, mas cada personagem, desde os mais calados e contidos, acaba tendo sua chance de mandar um falatório ou uma revelação capaz de calar a todos.
Eu realmente achei o filme uma experiência muito divertida e proveitosa, ficando feliz pela escolha. É um desses filmes que logo dá vontade de assistir de novo. Le Prénom é bem recente, e provavelmente deve fazer uma breve passagem pelo Brasil (se já não tiver feito, de tão breve que essas passagens costumam ser). Assistam se tiverem a chance. Mas, pelo amor de Deus, não joguem fora quase duas horas de um francês furiosíssimo assistindo dublado.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Filme nº 77: 300

Alguns anos atrás eu andava pelo shopping com uma menina enquanto esperávamos a hora da nossa sessão de cinema, quando passamos em frente a uma dessas lojas de eletrônicos, em cujas televisões de altíssima definição pra época estava passando o filme 300. Sem nunca ter assistido, eu comentei com ela 'olha esse bando de louco indo pra guerra de sunguinha', despertando a ira de um vendedor gordinho que estava por perto, que replicou indignado algo que já não consigo me lembrar. Nós saímos de perto, obviamente, mas eu fiquei pensando 'é, 300 deve ser um filme muito bom pro cara ter ficado tão ofendido'. E é mesmo.

THIS. IS. SPARTAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
300 é uma adaptação da HQ homônima de Frank Miller, que retrata a heroica participação espartana na batalha das Termópilas, na qual 300 guerreiros espartanos liderados pelo rei Leônidas conseguiram segurar o massivo exército persa no mesmo local durante dias. Num núcleo menor do enredo, a rainha Gorgo tenta convencer os líderes espartanos a autorizarem a mobilização de todo o exército da cidade-estado. 
Como deu pra ver, o enredo é bastante simples. O que faz de 300 um excelente filme é a sua execução primorosa, com uma fotografia incrível e épicas cenas de batalhas que usam e abusam dos efeitos de slow motion e do fundo verde; além do tom quase mitológico que o filme adquire ao retratar oráculos, criaturas bizarras e feras gigantescas. E o exército persa é o principal responsável por isso, visto que ele é retratado como um verdadeiro freak show no melhor estilo Orientalista de Edward Said.
A desumanização do exército inimigo não é algo novo ou incomum no cinema. Num dos primeiros filmes do blog, Sucker Punch, eu havia chamado atenção para o clichê que é retratar o exército alemão como um bando de robôs malignos. Em 300, os persas são descaradamente retratados como deformados e degenerados, isso quando não estão com o rosto completamente coberto. Sem mencionar o Rodrigo Santoro como uma bichona careca de três metros massageando o Leônicas (tributo à: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=30397748). Bom, mas nesse caso em especial, a desumanização até que contribuiu positivamente para a premissa do filme, em vez de ser apenas um elemento ridículo dele.
É claro que eu não poderia deixar de mencionar a infinidade de cenas e quotes eternos que contribuem para a explosão de testosterona que é o filme. Desde o famosíssimo 'THIS IS SPARTAAAA' seguido do chute, até a belíssima cena dos espartanos empurrando os persas para o precipício e a furiosa previsão alimentícia de Leônidas ao afirmar que naquele dia, todos jantariam no inferno.

De agora em diante, eu juro que se um dia ouvir um desavisado dizendo que os espartanos são 'um bando de louco de sunguinha' eu também vou ficar puto.

terça-feira, 19 de março de 2013

Filme nº 76: Adaptation

O nome de Charlie Kaufman já havia sido mencionado aqui no blog quando publiquei o post sobre o filme Being John Malkovich. Não sei se alguém ainda lembra, mas eu comentei aqui que o roteiro daquele filme foi uma das coisas mais originais e geniais que eu já havia visto no cinema. Adaptation, lançado quatro anos depois, parecia seguir a mesma linha. E Kaufman me surpreendeu mais uma vez.

Nick Cage prestes a escrever uma das maiores obras metalinguísticas que já vi
O filme já começa completamente fora do convencional: com um monólogo de baixa auto estima do protagonista da estória, o próprio Charlie Kaufman (interpretado por um Nicholas Cage bem gordo), que em seguida aparece dentro do set de filmagens de Being John Malkovich. Incumbido de adaptar um livro sobre flores para um roteiro de cinema, Kaufman se vê diante de diversos obstáculos, tais como seus bloqueios mentais, sua tremenda timidez, a dificuldade de adaptar um livro para o cinema e as interrupções de seu irmão gêmeo, Donald, o qual também decidiu ser roteirista de cinema, mas sem ter metade do talento de Charlie. Paralelamente, temos a retratação do enredo do livro escrito pela jornalista Susan Orlean (Meryl Streep), narrando todo o aprendizado que obteve durante suas entrevistas com John Laroche, um homem fanático por orquídeas que ganhou fama por começar a roubá-las de reservas florestais.
O nome do filme corresponde de maneiras diferentes aos dois núcleos. Dentro do livro, a adaptação biológica das plantas ao ambiente que as cercam exerce grande importância dentro da catarse pessoal de Susan. Já para Charlie Kaufman, a adaptação de um livro que ele tem dificuldade de compreender completamente para um roteiro de cinema, o que acaba se tornando um grande pesadelo para o roteirista, afetando profundamente sua vida.
Nicholas Cage sem dúvida é o que mais chama atenção dentro do enredo. Ainda na fase boa de sua carreira, ele interpreta dois personagens diametralmente diferentes que interagem entre si o tempo inteiro. É até cômico dizer isso, mas a química que ele acaba desenvolvendo consigo mesmo no fim do filme é algo raro de se ver. Chris Cooper também faz um excelente trabalho na interpretação de um caipira rústico porém cheio de sabedoria, capaz de fazer a personagem da Meryl Streep repensar seu próprio conceito de paixão.
Apesar de não ser um filme muito empolgante, Adaptation é incrivelmente genial em seus aspectos metalinguísticos. Não apenas pelo fato do roteirista escrever um enredo no qual ele próprio é o protagonista, também escrevendo um roteiro, ou por se inserir dentro da realidade das gravações de Being John Malkovich; mas principalmente pela inesperada reviravolta resultante da colisão entre esses dois núcleos até então paralelos e pela revelação final do filme.

Eu não consigo falar mais sem revelar detalhes da trama, então vou parar por aqui pedindo encarecidamente que assistam esse filme.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Filme nº 75: Laranja Mecânica

Tentando recuperar o vigor do projeto, hoje decidi ir direto num dos filmes mais marcantes do cinema. Não, eu nunca havia assistido Laranja Mecânica antes e, pra variar, sempre mantive uma certa desconfiança acerca da idolatria e de todas as imagenzinhas postadas na internet. Felizmente dessa vez eu consegui encontrar razões suficientes que fazem desse filme um verdadeiro clássico, embora ele provavelmente seja muito bem conhecido por aí pelas razões erradas. 

Os 40 minutos que ficaram famosos pelo filme inteiro
Laranja Mecânica é um escandaloso filme de Stanley Kubrick lançado em 1971. O enredo se passa numa espécie de futuro distópico e centra-se na vida de Alexander DeLarge, um jovem que, apesar da boa educação e situação financeira, possui uma segunda vida como líder de um bando de jovens violentos e delinquentes que saem por aí espancando homens e estuprando mulheres, além de alguns atos niilistas. Eventualmente, Alex acaba sendo preso, tornando-se candidato para um método experimental desenvolvido pelo governo com o objetivo de inibir o mal das pessoas através de intensa terapia. Aparentemente curado da sua índole violenta, Alex se encontra perdido num mundo em que é incapaz de qualquer ato de sexo e agressão, recebendo a ira vingativa de todos os que ele afetou em seu passado.
O filme sem dúvida é excelente, com uma grande atuação de Malcolm McDowell, uma boa trilha sonora (embora o uso indiscriminado da música clássica às vezes faz com que o filme pareça um episódio de Tom & Jerry) e inúmeras cenas imortalizadas no cinema. Os diálogos também são um ponto forte, havendo quase um dialeto próprio durante as cenas iniciais da gangue (além das palavras inventadas, eu quase tive que assistir o filme com um dicionário na mão). 
Mas, obviamente, o que mais chama atenção são as polêmicas que o filme coleciona. A violência física é menos presente e menos intensa do que eu imaginava, mas o que de longe desperta mais polêmica são as cenas de estupro (ou tentativa de estupro), além de uma imensa alegoria de gente pelada e objetos fálicos. Eu não estou familiarizado com o livro de Anthony Burgess, portanto não sei até que ponto todo esse apelo sexual seria fruto da adaptação de Kubrick, que sem dúvida chocou a audiência.
Algo interessante que eu notei foi o fato de 99% das coisas relacionadas ao filme que circulam (exaustivamente) pela internet pertencerem aos 40 minutos iniciais (num filme que dura 2h e 11 minutos), nos quais temos o Alex ultraviolento e sua gangue estuprando ao som de Singing in The Rain. Jovens inteligentes + música clássica + violência realmente parece ser uma combinação bem comercial pra vender camisas, fazer imagens cheias de tipografia e compartilhar fotos, o negócio é que, com exceção das cenas em que Alex é colocado naquela cadeira de força pra assistir os filmes do experimento, o restante do filme é absolutamente ignorado nessa idolatria toda. Eu considero isso um grande erro, visto que o meio e o fim do filme são muito mais profundos que o início, apresentando uma série de questões que valem alguma reflexão.

Filme nº 74: Beasts of The Southern Wild

Primeiramente gostaria de justificar os dois dias de atraso para postar o comentário desse filme. Pela primeira vez no ano, fiquei totalmente sem clima pra filmes. A falta de ter do que escapar durante as férias meio que tira um pouco do apelo de assistir um filme por dia. Acabou que fiquei devendo o filme de ontem e esse post que estou publicando agora. Enfim. Mais uma vez assistindo um filme sob influência dos Oscars pelos quais ele foi indicado. No caso de Beasts of the Southern Wild (cujo nome em português destrói muito do significado), das quatro indicações ao Oscar recebidas, a mais notável sem dúvida é a de melhor atriz, dada à Quvenzhané Wallis (sim, esse é o nome), de apenas 9 anos, sendo a atriz mais jovem a ser indicada ao Oscar. E como não poderia deixar de ser, sua personagem é o aspecto que mais chama a atenção em todo o filme.

WHO'S THE MAN? I'M THE MAN
Beasts of the Southern Wild retrata a vida de uma comunidade situada numa ilha no meio de uma barragem no sul dos Estados Unidos, separada do resto do mundo por um dique. Conhecida como 'Bathtub', essa comunidade é o lar de Hushpuppy, protagonista e narradora, e seu pai Wink, um homem que, apesar do temperamento forte e da saúde frágil, ainda consegue manter o instinto paterno. A relação entre os dois é o ponto central da história, com o pai ensinando sua filha como ser forte e dura o suficiente para enfrentar a vida, tendo a secreta consciência de que não estará por perto por muito tempo. Hushpuppy, por sua vez, acrescenta um tom de fábula à história, misturando sua difícil realidade com elementos tão distantes à Bathtub quanto grandes feras pré-históricas e as calotas polares.
Pra quem está acostumado com o cinema brasileiro, a retratação da miséria não é algo surpreendente. Mas ver isso no cinema americano foi realmente diferente, visto que eu não seria capaz de supor que existisse tal nível de pobreza e precariedade material dentro das fronteiras dos Estados Unidos. Os moradores de Bathtub dependem da pesca e da criação de animais para sua sobrevivência, sempre torcendo pra que as tempestades que assolam a ilha não a deixem alagada por muito tempo. E é no meio da lama, das galinhas e dos carregamentos de caranguejos e camarões que Hushpuppy vive sua infância com outras crianças num estado animalesco no melhor estilo naturalista de literatura. 
Mas enfim. Eu não amei e também não odiei, mas certamente o filme nos proporciona uma experiência diferente. O universo fantasioso de Hushpuppy, com a elevação da sua realidade para um patamar fantástico e até mesmo existencial, aliado aos métodos que Wink utiliza para transformar precocemente sua filha em gente grande, capaz de sobreviver às adversidades e seguir a tradição de autonomia e força da sua comunidade, a qual, dentre outras coisas, não permite choro em funerais.
Eu confesso que o final me deixou um pouco confuso. Eu estava um pouco sonolento e o filme estava num daqueles momentos onde não se sabe o que é realidade e o que é fantasia, então eu meio que não saquei o que aconteceu em certos momentos. 

De vez em quando é cansativo manter um blog com postagens diárias, mas vou tentar normalizar a situação.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Filme nº 73: The Perks of Being a Wallflower

De vez em quando ocorre de uma franquia de filmes, um seriado, ou mesmo um filme bem marcante sejam responsáveis pela perpetuação da sinonimização da imagem de um ator com a imagem de seu personagem mais famoso. Alguns atores conseguem lidar bem com isso, outros nem tanto, mas independentemente disso costuma haver sempre um grande estranhamento ao ver aquele carinha que sempre foi sinônimo de tal personagem fazendo um papel completamente diferente. Esse é o caso da Emma Watson, que por ter sua imagem muito vinculada à Hermione Granger acaba tornando bem curiosa a experiência de vê-la dançando e beijando um monte de caras.

And in that moment I swear we were infinite
The Perks of Being a Wallflower começa com o ingresso de Charlie no Ensino Médio como um jovem introvertido e intimidado por seus colegas de escola. Sua vida de estudante tem tudo para ser um inferno até ele conhecer Patrick e sua meia-irmã Sam, dois estudantes mais velhos que o introduzem a um novo grupo de amigos. A partir desse momento, Charlie finalmente consegue ter o sentimento de pertencer a algum lugar, além de entrar em contato com questões de amor, sexualidade, drogas, perdas, medos, esperanças, amizade, homossexualismo e outros aspectos da transição da vida adolescente para a vida adulta.
De início, o filme parecia ser mais uma daquelas histórias batidíssimas de 'ah eu odeio a escola ah eu sofro bullying ah eu não sou popular ah ela também curte The Smiths', mas é muito além disso. Com uma estrutura narrativa baseada nas cartas que Charlie escreve a um remetente anônimo, o filme retrata de forma bela e sensível o duro crescimento espiritual que os personagens alcançam nos altos e baixos da juventude, focando no relacionamento que Charlie desenvolve com seu grupo de amigos, especialmente com a Sam, por quem ele nutre maiores sentimentos.
Foi realmente uma experiência muito boa pra mim. Mal consigo lembrar a última vez que um filme me deixou tão inspirado. A trilha sonora é excelente, sendo menos hipster do que imaginei. Os personagens são muito bem construídos, cada um com sua dose de elementos positivos e negativos que escapam da mesmisse dos filmes adolescentes. Charlie, em especial, possui alguns problemas complexos em seu passado que o atormentam esporadicamente a ponto de fazê-lo perder a consciência em certos momentos. Esse foi um fator que adquiriu importância inesperada ao longo do filme.
Obviamente eu não poderia deixar de falar da Emma Watson, que interpreta uma garota linda e interessante, que aparenta julgar as pessoas pelo gosto musical e não é muito sensata na hora de escolher seus parceiros amorosos. Ela realmente conseguiu dar um tom fascinante e ao mesmo tempo humano à sua personagem, evitando que ela se tornasse uma segunda Summer de 500 Dias Com Ela. Também soube mostrar que ela é capaz de ser muito mais do que apenas a Hermione de Harry Potter.

Hoje eu estou uma merda pra escrever, espero voltar ao ritmo nos dias seguintes. 

quinta-feira, 14 de março de 2013

Filme nº 72: 1920 Batalha de Varsóvia

Desde que comecei a aprender o idioma polonês (Tak, ja mogę mówić po polsku), há pouco mais de um ano, tenho desenvolvido um interesse muito grande pela Polônia e sua História. Esse interesse, no entanto, ainda não havia se refletido por aqui. Um dos principais motivos pra isso foi o fato deu simplesmente não conhecer quase nenhum filme polonês. Dando uma vasculhada, acabei encontrando esse filme, que me despertou o interesse por duas razões: 1. parecia ser uma autêntica super-produção de guerra, 2. possuía uma nota baixíssima no IMDb (4,3) apesar de muitos comentários da página e dos vídeos no youtube alegarem que isso era uma tremenda injustiça, chegando até mesmo a acusar os russos da negativação do filme por puro recalque (!!!). Estando diante de tudo isso, obviamente precisei tirar minhas próprias conclusões e ver se esse 4,3 era ou não era uma injustiça para com o filme. 

O seu recalque bate na minha cruz e volta mancando pra Moscou
Bitwa Warszawska (o nome original), como o próprio nome já evidencia, retrata o contexto da decisiva e incrivelmente pouco conhecida Batalha de Varsóvia, ocorrida no ano de 1920 durante a guerra polaco-soviética de 1919-1921; quando o exército polonês, contra todas as expectativas, interrompeu o avanço de uma massiva ofensiva soviética nos arredores de Varsóvia, salvando não apenas a recém-conquistada independência polonesa, mas também impedindo a realização do sonho de Lênin de unir a Rússia à Alemanha, criando uma imensa e poderosa federação socialista capaz de tomar o resto da Europa. Por tão inesperada vitória, a batalha também é conhecida como O Milagre no Vístula.
Mais especificamente, o filme aborda a história do casal Jan e Ola, ele, um poeta que se alista no exército polonês e acaba tornando-se um prisioneiro soviético logo no início da guerra; ela, uma cantora que, com o agravamento da guerra, voluntaria-se como enfermeira e no fim acaba operando uma metralhadora nas linhas de frente da batalha contra os russos. Além dos dois protagonistas fictícios, o filme conta com figuras históricas reais como personagens importantes no enredo, como o Marechal Józef Piłsudski (comandante supremo do exército polonês), Vladimir Lênin, Leon Trótsky, Josef Stalin; dentre outros personagens menores. 
Mas e aí, quais foram minhas impressões sobre o filme? Bom, a primeira metade do filme faz uma bela retratação da sociedade polonesa do início da década de 1920 (se é acurada ou não eu me abstenho, pois não sou especialista no assunto), com um agitado clima de poesia, cafés e cabarés. Contando com dois protagonistas, o começo do filme se divide entre a vida em Varsóvia testemunhada por Ola e a curiosa convivência dentro dos exércitos polonês e soviético sob os olhos de Jan. Do meio para o fim, quando o clima de guerra toma conta de toda a Polônia, o filme é tomado por sofridas e grandiosas cenas de batalha, com bombardeios aéreos, cargas de cavalaria, ataques de ondas humanas e até mesmo uma incrível cena -retratada na imagem acima- onde os soldados poloneses marcham em direção às trincheiras inimigas ao lado de um padre que não tem nada nas mãos além do seu crucifixo.
Uma característica que torna esse filme mais emocionante que a maioria dos filmes de guerra americanos é o fato de termos a população inteira dominada por sentimentos de patriotismo e envolvida na causa de guerra, pela simples razão de o campo de batalha estar nas ruas da sua cidade ou mesmo no quintal da sua própria casa, envolvendo mulheres, crianças e idosos; algo que os Estados Unidos nunca experimentaram. As cenas de batalha são tão turbulentas, ferozes e mortais que o tempo inteiro você pensa que os poloneses não tem a menor chance, tudo para sermos surpreendidos, tal como na vida real, por uma vitória que o desenvolver do enredo nos vendeu como impossível.
Com possíveis retratações estereotipadas de russos como massas humanas violentas e selvagens e líderes poloneses como visionários quase messiânicos, além de um decisivo papel da Igreja Católica que muitos apontaram como exagerado; o filme provavelmente pode ser considerado um tanto ufanista. Mas são pouquíssimos os filmes de guerra que podem escapar dessa acusação. Sim, Bitwa Warszawska é uma grande peça de propaganda patriótica. Uma bela e emocionante peça de propaganda patriótica.
Gostei tanto do filme que fiz questão de fazer uma conta no IMDb para dar a nota alta que eu acho que ele merece. E só me resta concluir que de fato foi o recalque russo um dos maiores responsáveis pelas avaliações negativas que vi por aí.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Filme nº 71: Mal Dia Para Pescar

Mais uma vez explorando os filmes cisplatinos sob a indicação do James, um assíduo leitor desse blog e mestre do cinema uruguaio. Ao contrário do Banheiro do Papa (aliás, Habemus Papam!), Mal Dia Para Pescar é um filme onde o lado cômico se sobressai sobre os aspectos trágicos e dramáticos, consequentemente sendo uma experiência bem mais leve e divertida. Não que seja uma comédia escancarada, mas simplesmente é possível sentir todo o humor e ironia que vive no interior do filme.

Se está sem sorte, melhor não ir pescar
Mal Dia Para Pescar conta a história de Príncipe Orsini, um vigarista que reivindica uma duvidosa ascendência nobre europeia, e seu parceiro/principal ferramenta de trabalho, Jacob van Oppen, um alemão ex-campeão mundial de inúmeras categorias de luta livre. Juntos, eles percorrem a América do Sul promovendo exibições das habilidades físicas do lutador e lançando um desafio que promete um prêmio de mil dólares àquele que conseguir durar três minutos no ringue com o grandão. O que nem o público nem o próprio van Oppen sabem é que esses desafios são sempre previamente combinados por Orsini, que sequer tem a quantia para o prêmio. A dupla se encontra num impasse quando, durante uma passagem por uma pequena cidade do Uruguai, Jacob é desafiado de verdade por um homem que aparenta ter todas as condições para vencê-lo. Certo de que seu lutador não tem a menor chance, Orsini tenta desesperadamente encontrar um jeito de escapar dessa situação, tendo a população local, a imprensa e o próprio Jacob na pressão pela ocorrência da luta.
Já começando na cena final, ao mostrar um grande tumulto no local da luta e a retirada de um lutador à beira da morte, o filme deixa em aberto o resultado do tão esperado embate, reservando ao espectador a mesma ansiedade que o Príncipe Orsini vive por todo o enredo. Enquanto aguardamos o desfecho, o filme mostra a trajetória de Jacob e Orsini na cidade de Santa Maria, revelando o lado vigarista do primeiro e a natureza doente, cansada e quase infantil do segundo. A química entre os dois personagens, que sempre conversam em inglês, é o principal combustível da trama, mostrando a relação de dependência que eles tem entre si, visto que só possuem um ao outro. 
Além do enredo original e dos ótimos personagens, Mal Dia Para Pescar também apresenta uma excelente fotografia e trilha sonora, criando perfeitamente o clima de uma cidade pequena latino-americana em algum lugar da década de 1960. Não é atoa que ele é premiadíssimo no Uruguai e por todo o mundo, recebendo prêmios em Cannes e sendo o candidato à Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009.

Muito bom, pena que seja praticamente desconhecido do público brasileiro.   

Filme nº 70: Um Dia de Fúria

Hoje eu finalmente normalizo a situação caótica desse blog, e paro de metralhar posts um em cima do outro. Isso não é legal com quem eventualmente passa por aqui e nem é legal pra mim também, que acabo tendo alguns posts bem injustiçados em visualizações. Mas enfim. O filme que assisti ontem de madrugada foi um desses filmes que você sempre ouviu falar e acabou construindo uma impressão baseada em algumas poucas fotos, vídeos e comentários. No caso de Um Dia de Fúria, eu acabei imaginando que se tratava de um daqueles filmes ótimos para o estresse, retratando um cara que teria se cansado de levar desaforo pra casa e decide começar a sentar a porrada. Mas eu estava errado.

Get some shooting lessons, asshole
Um Dia de Fúria, ou Falling Down, mostra o dia de um homem aparentemente comum que de uma hora pra outra decide sair do seu carro no meio de um engarrafamento e ir caminhando até o aniversário de sua filha, tratando violentamente de todos os defeitos da sociedade que surgem na sua frente. Sua trajetória inesperada e incomum acaba confundindo a polícia, mas começa a chamar a atenção de um policial quase aposentado que decide tentar resolver o caso pessoalmente.
Apesar de realmente mostrar um cara que decide se revoltar contra os pequenos abusos que todo mundo sofre no dia-a-dia, algo que não costuma ser mencionado em todos os vídeos do filme pelo youtube é que William Foster, ou Bill, ou simplesmente D-fens, na verdade é um psicopata. No meio de toda a revolta contra o trânsito na rua e o hamburguer enganoso do fast-food, Bill também telefona para sua ex-mulher, com quem já possui uma restrição judicial de 30 metros de distância, para amedrontá-la e ameaçá-la. Mesmo seguindo um certo código de conduta, é possível notar uma certa crueldade e insanidade do personagem durante o trato das pessoas injustas e irritantes no seu caminho. Então, longe de ser uma peça de comédia ou de ação ou uma mistura de ambas, Um Dia de Fúria acaba sendo um filme trágico, especialmente no final.
Do elenco eu realmente só reconheço o Michael Douglas, que faz uma excelente interpretação do explosivo Bill Foster. Os cenários do filme mostram uma cidade de Los Angeles infernalmente quente e repleta de traços multiculturais que no começo do filme chegaram a me fazer pensar que a revolta do protagonista era dirigida aos pobres e aos imigrantes da cidade, mas isso seria uma interpretação equivocada. Foster, apesar de se mostrar defensor do velho sentimento americano, realmente explode na mão de qualquer um que se coloque no seu caminho, sem distinções de cor ou de classe social.

Se procuram um desses filmes de suave vingança social, creio que Um Dia de Fúria não é o lugar certo.

terça-feira, 12 de março de 2013

Filme nº 69: Aliens

Dando continuidade à franquia que comecei a ver em fevereiro, hoje assisti AlienS, o segundo episódio do combate à infestação dos xenomorfos nas instalações humanas pelo espaço. Ao contrário do primeiro filme, a proposta dessa sequência aparentemente é, além de colocar um número maior de xenomorfos, ao contrário do lobo solitário do filme predecessor, mostrar os aliens tomando um pouco de porrada em adição ao já costumeiro massacre dos seres humanos, em contraste com o combate quase unilateral visto em 1979.

VEM COM A MAMÃE
O enredo conta mais uma vez com a presença de Sigourney Weaver interpretando a protagonista Ellen Ripley, cuja nave onde ela e seu gato estavam mantidos num profundo estado de hibernação finalmente é encontrada no meio do espaço depois de ficar vagando durante 57 anos. Finalmente acordada, Ripley se vê diante da descrença dos executivos da Weyland-Yutoni acerca da carnificina ocorrida na Nostromo e da própria existência dos xenomorfos. Ao descobrir que o planeta onde sua tripulação encontrou os ovos de aliens estava sendo colonizado, Ripley alerta os executivos sobre a urgência de evacuar o planeta, o que se revela tarde demais quando a empresa perde o contato com ele. Sendo a única com alguma expertise no assunto, Ripley acompanha o esquadrão de resgate enviado para investigar o planeta.
Consideravelmente menos solitário e claustrofóbico que o filme inaugural, Aliens acaba repetindo boa parte dos erros que eu havia apontado nele. As aparições dos aliens e seus ataques são envoltos por tanta fumaça e má iluminação que continua muito difícil conseguir entender alguma coisa, ainda mais quando são dezenas de aliens contra dezenas de soldados. Os bonecos que representam os aliens continuam não sendo nenhuma perfeição, mas já são consideravelmente melhores e mais dinâmicos. Outros elementos também reaparecem, como a presença de um androide e de um membro da tripulação que esteja disposto a trair e sacrificar todo mundo em nome da exploração científica dos xenomorfos.
Algo que vale a pena ser mencionado é a falta de qualquer evolução notável da tecnologia humana nesses cinquenta e sete anos que separam um filme do outro. É quase como se nada tivesse mudado além do penteado da Ripley (que mudou pra pior). Infelizmente isso é um grande descuido dentro de um filme dessas proporções e com a direção de James Cameron. Se não havia nenhuma mudança prevista entre os cenários e a tecnologia de um filme pro outro, que pelo menos dissessem que houve um hiato de uns dez anos.
Mesmo assim, essas coisas não significam que Aliens não possua suas vantagens. A introdução de Newt como a garotinha sobrevivente que redesperta os instintos maternos de Ripley foi muito bem vinda. Aliens também nos apresenta a 'alien rainha' responsável por botar os ovos da espécie, a qual acaba rendendo um bom 'último chefão' numa ótima batalha contra Ripley dentro de nada menos do que um MECHA. Mas mesmo depois do fim da batalha, o filme termina mais ou menos da mesma forma que o primeiro.

Agora é assistir a próxima sequência da franquia, ~originalmente~ batizada de Alien³, sob a direção de David Fincher e também protagonizada pela incansável Ellen Ripley.

Filme nº 68: Hot Fuzz

Quando assisti Shaun of the Dead durante o Carnaval, eu não havia me dado conta de que ele fazia parte de uma trilogia resultante da parceria entre Simon Pegg, Nick Frost e o diretor Edgar Wright. A chamada The Three Flavours Cornetto Trilogy, também conhecida como Blood and Ice Cream Trilogy, relaciona cada um de seus filmes com um sabor de Cornetto, sempre exibindo uma cena onde os personagens compram e consomem o sorvete. Shaun of The Dead foi o filme do Cornetto vermelho de morango. Hot Fuzz, o segundo da trilogia, representa o Cornetto original de cor azul.  

By the power of Greyskull!
Depois de anos construindo uma sólida carreira como o melhor policial de Londres, disparado, Nicholas Angel não esperava que isso fosse lhe proporcionar uma promoção para baixo. Seu desempenho no trabalho era tão exemplar que ele estava começando a fazer com que seus colegas parecessem medíocres em comparação. Por conta disso, Angel é promovido ao cargo de Sargento, porém transferido para Sandford, a cidade com os menores índices criminais de toda a Inglaterra. Desesperado por estar numa cidade onde o último homicídio fora registrado a mais de 20 anos, cujo departamento de polícia é composto por gente que nunca disparou um tiro na vida, e cujo caso mais agitado do ano foi o desaparecimento de um ganso; Angel acaba se vendo diante de uma série de mortes em circunstâncias muito suspeitas, as quais o levam a suspeitar da existência de algo por trás de todos os índices de segurança e de bem-estar da pacata cidade de Sandford.
O resultado disso tudo é um enredo que une ação, bom humor e uma dose de suspense. A ambientação de Sandford como a cidade perfeita é memorável, além da construção de toda a comunidade de moradores e a sombria Neighbourhood Watch Alliance, com destaque ao personagem de Timothy Dalton. A transformação de Simon Pegg de um simples funcionário de uma loja de eletrônicos para o policial mais eficiente de Londres é impressionante. Assim como em Shaun of the Dead, a química entre os personagens de Simon Pegg e Nick Frost é latente, ainda que dessa vez seja tardia.
Outro elemento comum à trilogia é a filmagem de ações simples e de trocas de cena como se fossem algo tremendamente importante (eu realmente não consigo descrever isso de uma forma melhor). No começo é algo até que divertido, mas o abuso desse elemento por todo o filme o torna cansativo. O final do filme, apesar de dar uma bela animação ao espectador sobre o que o Angel irá fazer e conseguir inspirar um belo "É ISSO AÍ CARALHO", acaba deixando um pouco a desejar, mostrando menos sangue e mais tropeços (mas ainda assim é um bom final).

Hot Fuzz é bem melhor que Shaun of the Dead, que já é legal por si só. Agora não vejo a hora do lançamento do Cornetto verde de menta esse ano.

Filme nº 67: Saneamento Básico

A vida de alguém que fica sem internet justo quando acaba de entrar de férias pode acabar se relevando bem livre de quaisquer afazeres. Até demais. Com tanto tempo livre e tão pouca coisa pra fazer, parecia natural apelar para os filmes. E foi o que aconteceu. Saneamento Básico foi o segundo filme que assisti num dia particularmente tedioso, compensando um dos dias em que não pude assistir filme nenhum. Agora falta compensar só mais um filme e volto a ficar em dia.

Olha quem vem lá! Silene, Silene SEAGAL.
Saneamento Básico conta a trajetória dos moradores da comunidade da Linha Cristal para conseguir verba da prefeitura para a execução de obras de saneamento básico no arroio local, que encontra-se poluído pelo esgoto da região. Logo, a comissão organizada para pleitear a obra na prefeitura descobre que não existe verba disponível para obras de saneamento básico mas, por outro lado, existe uma verba de 10 mil reais do governo federal destinada ao apoio de produções cinematográficas em cidades pequenas. Notando que o dinheiro acabaria sendo devolvido por não haver nenhum candidato, os moradores decidem produzir um roteiro e um vídeo de 10 minutos para receber a tal verba e com ela fazer a obra de saneamento. O fato de que o filme precisa ser de ficção, partindo da concepção equivocada do termo 'ficção' pelos moradores, abre espaço para ideias mirabolantes para o enredo, como a introdução de elementos de ficção científica (pois essa é a ideia local do significado de ficção) e monstros.
Daí em diante, passamos a testemunhar a amadora e cômica elaboração desse filme em cada detalhe, como a criação dos personagens, a escolha dos nomes para eles, a construção dos diálogos, a filmagem das cenas, a elaboração do figurino, a arrecadação de patrocínio e etc; tudo isso temperado pelo limitado conhecimento que a comunidade possui sobre cinema.
Saneamento Básico realmente consegue ser bem engraçado na sua linguagem metalinguística utilizada na abordagem da criação de um filme, além de mostrar a ignorância que o público normalmente tem do processo de produção de um filme (sim, o filme é muito sobre ignorância mesmo). As filmagens sem dúvida são os pontos altos do filme, sendo recheadas de erros e falta de talento para a atuação. Disso dá pra tirar um fator ligeiramente negativo do filme, pois muitas vezes a falta de dicção dos personagens diante das câmeras soa bastante forçada. 
O elenco também merece destaque, com a presença de Fernanda Torres, Wagner Moura (pra variar), Camila Pitanga e Bruno Garcia como os principais responsáveis pela produção do glorioso Monstro da Fossa (ou do Fosso). A aparição final de Lázaro Ramos (praticamente obrigatória nos filmes do Jorge Furtado) veio pra salvar o enredo da total ingenuidade, inserindo um cara que pela primeira vez no filme parece saber o que está fazendo, apesar de ter seus próprios interesses velados.

Mesmo não sendo uma obra prima, Saneamento Básico sem dúvida é uma peça de criatividade dentro do cinema brasileiro. 

Filme nº 66: Jumanji

O filme de hoje foi acidental, desses que você tá passando perto da televisão e acaba assistindo, independente se já assistiu antes ou não (no caso de Jumanji, já assisti uma dúzia de vezes). Pertencente à categoria nem sempre honrosa dos filmes de Sessão da Tarde (já que a maioria dos brasileiros viu pela televisão, e não no cinema, em 1995), creio que posso dizer que, ao contrário da Lagoa Azul e daqueles de cachorro, Jumanji é um filme que quando você encontra na televisão, pensa 'ah, esse é bem legal'. E é mesmo. Tanto que ainda hoje considero Jumanji um dos meus filmes preferidos.

Come here and face me like a man!
O enredo já é bem conhecido por todo mundo: Jumanji conta a história de uma partida especialmente longa de um jogo de tabuleiro de mesmo nome, o qual possui poderes cruelmente fantásticos de conjurar as criaturas e as forças mais perigosas das selvas para testar a coragem dos seus jogadores. Começando em 1969, quando Alan Parrish, herdeiro da família mais rica e tradicional de Brantford, New Hampshire, é atraído pelos misteriosos tambores do jogo; a partida é travada inicialmente entre ele e sua amiga Sarah Whittle. Quando Alan é sugado pelo resultado de sua jogada e abandonado por Sarah, a partida é interrompida por 26 anos, até o jogo atrair dois novos jogadores: Judy e Peter, dois irmãos recentemente órfãos que acabaram de se mudar para a mansão dos Parrish com sua tia. Para que possam se ver livres de todos efeitos do jogo, Judy e Peter reúnem e convencem um Alan Parrish recém-saído de anos de selva e uma Sarah Whittle recém-saída de anos de terapia a levar a perigosa partida até o fim.
Eu poderia falar sobre um monte de coisas que me fazem gostar desse filme, como o Alan Parrish selvagem, as mentiras da Judy, o policial Carl, os macacos psicopatas, o insistente caçador Van Pelt e a ininterrupta manada de elefantes, zebras e rinocerontes que sacodem Brantford; mas aí eu estaria falando praticamente do filme inteiro. Pra não dizer que adoro o filme sem ressalvas, o que quase é verdade, Jumanji possui um número considerável de pequenos buracos no enredo, que podem não fazer diferença no saldo total mas continuam sendo resultado de falta de atenção aqui e ali.
Mesmo sendo um filme de 1995, os efeitos especiais são bastante convincentes na hora de retratar a destruição da mansão dos Parrish e da cidade de Brantford e as feras responsáveis por elas. O filme também consegue misturar elementos de aventura com elementos cômicos e de vez em quando até de algum suspense e terror. Enfim, é um desses filmes que eu realmente considero completos em seu propósito, tornando-se facilmente um clássico que marcou a infância de muita gente.

Filme nº 65: O Virgem de 40 Anos

Esse mês de março realmente não está facilitando nem um pouco o meu projeto. Agora que eu finalmente estou livre da universidade, dou de cara com a internet não paga aqui de casa, algo que sabe-se lá quando vai ser resolvido (estou escrevendo no exílio virtual nesse momento). Obviamente eu continuo vendo os filmes, pelo menos os que eu tive a esperteza de baixar legendado, assim como também continuo escrevendo sobre eles offline. Enfim, como eu vinha reclamando a um tempo da minha dependência dos filmes curtos, inaugurei as férias com as 2h20 d'O Virgem de 40 Anos.

ATÉ QUANDO, JESUS???
O nome basicamente já diz tudo: é a história de Andy, um homem que nunca teve muita habilidade com sua vida amorosa, preferindo se dedicar à sua enorme coleção de bonecos e a seus videogames. Não seria algo lá tão problemático se Andy não tivesse feito a proeza de manter sua virgindade até os 40 anos de idade. Quando seus colegas de trabalho acidentalmente descobriram essa particularidade de Andy, eles decidiram iniciar uma incansável busca para lhe arrumar alguém que pudesse tomar conta do seu probleminha. Sob a orientação de todo o tipo de 'teorias' sobre como conquistar mulheres, ele acaba se submetendo a todo o tipo de fracassos mesmo depois de encontrar a pessoa certa..
O filme realmente conseguiu ser uma experiência divertida pra mim, apelando para a baixaria com menos frequência do que eu imaginei (tem lá e cá, mas nada que deixe o filme desagradável). Steve Carrel realmente é um especialista em interpretar personagens ferrados e com pouca habilidade social, algo que eu já havia presenciado em oito temporadas de The Office; além de conseguir despertar a simpatia do espectador para a sua causa nobre. O filme também conta com personagens cheios de personalidade, especialmente os três outros funcionários da loja onde Andy trabalha e sua principal pretendente.
No entanto, a longa duração da história é justamente o ponto fraco do filme, provando que dificilmente uma comédia consegue se alongar por mais de duas horas sem se tornar cansativa. Ainda mais uma baseada numa ideia tão banal e simples de ser resolvida (OK, EU SEI QUE NÃO É, mas também não representa o fim da humanidade nem nada). Então, apesar de todos os pontos bons, você acaba se perguntando 'Meu Deus mas será que esse filme não vai acabar nunca?'.  

Lembrando que obviamente não é um filme pra se ver com os pais.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Filme nº 64: Tempos de Paz

A escolha de hoje mais uma vez foi determinada pela minha situação de refém dos filmes de curta duração, algo que, agora com as férias (!!!!!!!!), eu pretendo eliminar. Não que eu vá parar de assistir os de uma hora e pouquinho, o que seria uma injustiça aos ótimos filmes como esse, mas agora vou poder abrir espaço aos tantos com mais de 2h, às trilogias e às franquias mais famosas e tradicionais do cinema. Hoje, no entanto, me contentei com esse filme simples e interessante de 2009. 

O senhor tem dez minutos.
Baseado numa peça teatral, o filme se passa no ano de 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando milhares de imigrantes do Leste Europeu chegam ao Brasil para tentar uma vida nova. No meio deles, está o polonês Clausewitz, cuja falta de bagagem e notável habilidade com o português chama a atenção dos funcionários da alfândega, que suspeitam que ele possa ser um nazista fugitivo. Para tirar a história a limpo, é chamado Segismundo, um interrogador alfandegário e ex-torturador do Estado Novo, que, indiferente aos apelos de Clausewitz, acaba propondo um trato no qual o polonês precisa fazê-lo chorar com suas lembranças de guerra para poder ficar no Brasil, do contrário seria mandado de volta.
Dessa forma, o filme acaba sendo uma longa conversa entre os dois, hora pacífica, hora conflituosa, hora disputando quem presenciou mais horrores ao longo da vida. Os diálogos (ou o diálogo) do filme são predominantemente muito bem feitos, abordando temas como a guerra na Europa, a ditadura de Vargas, a tortura presente em ambos e as atrocidades e arrependimentos vividas por cada um dos personagens. As atuações também são outro ponto forte nos dois únicos personagens que interessam, com exceção de alguns momentos de certo exagero por parte do Dan Stulbach, que acabava parecendo o esteriótipo do estrangeiro lambão (sei lá porque decidi usar esse termo, mas foi o que me veio à mente).
Por ser completamente centrado na conversa de Segismundo e Clausewitz, o filme acaba relegando o mundo exterior ao galpão da alfândega ao esquecimento, o que não seria problema algum se não houvesse uma certa tentativa de fazer parecê-lo importante, como nas aparições do personagem de Daniel Filho, o qual termina interpretando um papel que se encaixa de forma bem esquisita e problemática no enredo, parecendo fruto de um certo desleixo. O final um tanto quanto trapaceiro do filme também me deixou um pouco incomodado,  mas acho que sou capaz de engolir.

Filme nº 63: Black Dynamite

Quando não atraso um filme ou um post por conta de todas as provas e trabalhos que tive essa semana, eu atraso por pura e simples preguiça. E esse é o caso agora, assisti o filme ontem de madrugada e não tive forças (e nem inspiração) pra comentar a respeito na mesma hora. Hoje o dia vai ser um pouco difícil para o próximo filme também, mas, como é meu último dia de aula (!!!), isso não deve acontecer de novo pelos próximos vinte dias. Nada disso estaria acontecendo, é claro, se eu fosse Black Dynamite (DYNAMITE... DYNAMITE!).

I told you not to interrupt my kung fu
Sugestão do grande e velho Davi, Black Dynamite é uma comédia lançada em 2009, com a intenção de parodiar os filmes e seriados policiais dos anos 70, os quais sempre são protagonizados por um homem absolutamente infalível e irresistível às mulheres. E nada poderia descrever melhor Black Dynamite (no caso, o protagonista), um veterano de guerra e ex-agente da CIA que, após a morte misteriosa de seu irmão mais novo, empreende uma caça implacável aos traficantes de droga locais, com o objetivo de limpar a cidade de uma vez por todas (até eu já to falando em clima de anunciante de filme policial). Durante essa longa sequência de kung fu e tiroteios, Black Dynamite e seus parceiros se vêem em meio a uma bizarra conspiração governamental com fins malignos. 
O filme, assim como Death Proof do Tarantino, busca reproduzir o estilo de filmagem da década de 1970 até mesmo em suas falhas, com microfones invadindo a cena, inúmeras atuações amadoras e socos que passam a dez centímetros da cara dos bandidos e os acertam assim mesmo; elementos que acrescentam muito humor ao enredo. Apesar disso tudo (ou justamente por conta disso tudo), o filme reproduz a época tão bem que dá até pra convencer um desavisado de que tudo foi gravado em 1975.
O enredo, várias vezes sem pé nem cabeça, nos leva a testemunhar situações incrivelmente bizarras e divertidas, como a existência de uma ilha dominada por mestres chineses do Kung Fu -dentre eles, um antigo inimigo mortal de Black Dynamite- e uma batalha final travada com nunchakus no salão oval da Casa Branca contra o presidente Richard Nixon. Tudo isso enfrentado pela infalibilidade e senso de justiça de Black Dynamite.

Bônus para a música tema: http://www.youtube.com/watch?v=eTPb4QAfHCY

terça-feira, 5 de março de 2013

Filme nº 62: Cloverfield

Essa tem sido uma semana complicadíssima pra manter um blog de filmes pelo simples fato de que não está dando tempo de assistir nenhum. Hoje eu consegui dar uma escapadinha com o filme mais curto do meu estoque (depois de me certificar que nele não haveria cenas de pênis rodando e penetração anal) e, já que também não existe bastante coisa pra comentar acerca dele, espero fazer um post bem rapidinho também.

RUN TO THE HILLS
Cloverfield é um filme bem interessante lançado em 2008, narrando um episódio de invasão e destruição da ilha de Manhattan por uma criatura gigantesca e misteriosa através da perspectiva de um grupo de pessoas comuns com uma câmera na mão. E é isso, não poderia ser mais simples. Afinal de contas, quando um filme retrata a destruição de uma grande cidade por uma força misteriosa, é preciso adicionar pouca coisa ao enredo, ainda mais quando o espectador é facilmente impressionável com filmes de catástrofe e histeria coletiva da forma como eu sou.
A característica mais marcante de Cloverfield é a forma como todas as cenas são filmadas: a partir da câmera utilizada pra gravar os depoimentos da festa de despedida do protagonista, adquirindo um tom de filmagem amadora, com a câmera sacudindo, se sujando, caindo e desligando. Não é algo inédito no cinema, vide as experiências com Bruxa de Blair, mas a inserção desse elemento num filma à lá Godzilla/King Kong foi, na minha opinião, algo bastante original.
O clima de pânico em Manhattan é muito bem produzido, apesar das atuações bastante limitadas dos personagens principais. A destruição de vez em quando impressiona, mas acaba sendo um elemento pouco privilegiado no filme como um todo, até por conta da forma mais 'microscópica' com que as cenas são retratadas, que não são propicias pra uns takes no estilo de 2012 ou O Dia Depois de Amanhã. O enredo não se dá ao trabalho de produzir nenhuma explicação para os acontecimentos, e, dado o formato e a proposta do filme, é preciso ser um pouquinho pedante pra exigir isso dele.

Filme bem curtinho e divertido, vale a pena.

domingo, 3 de março de 2013

Filme nº 61: The Cabin in The Woods

Uma das melhores coisas a se fazer em termos de cinema é assistir um filme sem fazer a menor ideia do que ele trata. Sem ver nenhum trailer, sem ler nenhuma sinopse, sem nada; simplesmente chegar no filme e deixar ele te mostrar o que é que vai acontecer. Já havia feito isso algumas vezes esse ano (e outras várias durante a vida), com resultados bons, resultados mais ou menos e resultados ruins; mas nenhum filme até hoje havia sido capaz de me fazer ir do 'nossa mas que BOSTA de filme' para o 'caramba, esse filme até que é muito bom'. Não saber nem mesmo que o filme era uma Horror Comedy contribuiu para a experiência. Pra quem estiver afim de experimentar a sensação de ser surpreendido, eu sugiro que pare de ler o post aqui mesmo (mentira, não to escrevendo essa merda aqui atoa).

Grupo de jovens numa cabana no meio da floresta. Coisas ruins acontecem.
Durante a maior parte do tempo, The Cabin in The Woods parece ser apenas mais um suspiro do exaustivo modelo americano de filmes de terror: um grupo de jovens que decide passar o fim de semana num lugar isolado, com garotas retardadas doidas pra dar e rapazes retardados doidos pra comer; todas as idiotices cuidadosamente construídas pra irmos nos acostumando com a ideia de querer vê-los morrer. Chegando no tal lugar isolado, que geralmente é uma cabana, eles encontram evidências de que alguma coisa terrível aconteceu ali num passado distante (obviamente ignorando), e, quando se dão conta, já estão lutando pelas próprias vidas quando algum tipo de entidade sinistra surge no local para matar todos eles, tendo como principal aliada a falta de inteligência de suas vítimas. Normalmente é tão previsível que basta você bater o olho nos personagens para dizer qual será a ordem das mortes, partindo de inúmeras variáveis, tais como o papel que ele exerce dentro do grupo e o salário do ator que o interpreta. Até aí eu ainda estou pensando 'mas que bosta de filme, ein', mas existe um outro núcleo da trama formado pelo que parece ser uma espécie de repartição pública monitorando e controlando o cenário da matança, que leva o filme para um nível totalmente diferente.
Sem revelar mais detalhes do que já fiz, eu digo que o filme é muito bem trabalhado na metalinguagem que parodia e satiriza 90% dos filmes de terror americanos, sendo muito mais bem sucedido na comédia do que no terror. Alguns pontos merecem destaque, como o personagem Marty, o maconheiro que parece ser o único que possui um pouco de esperteza e lucidez no meio do grupo, embora acabe fazendo uma grande apologia à maconha como instrumento imunizador do controle alheio sobre eles. O clima irreverente dentro da tal repartição também é um ponto forte do filme, apesar do cara negro que parece estar incomodado o tempo inteiro com o que está fazendo, como se ele quisesse mostrar que tem ética mesmo trabalhando pro demônio.
Mesmo sendo uma grande sátira, o filme não deixa de apresentar algumas falhas aparentemente não intencionais, como ter uma protagonista completamente sem sal e aparentemente imortal à todos os golpes potencialmente fatais que sofre no decorrer da estória. A participação da Sigourney Weaver (pra quem não conhece, a protagonista da franquia Alien e par romântico de Bill Murray em Ghostbusters), apesar de vir em tom de aparição especial, acabou ficando meio sem pé nem cabeça, com a personagem surgindo e desaparecendo do nada. 

Filme bem divertido.

sábado, 2 de março de 2013

Filme nº 60: Infância Clandestina

Para os que talvez não acreditem, eu realmente guardo todas as sugestões de filme que recebo, geralmente favoritando as páginas no IMDb do filme recomendado numa pasta que visito sempre que estou entediado (e isso acontece com bastante frequência). Normalmente durante essas visitas, eu já vou colocando vários filmes pra baixar ao mesmo tempo, pra deixar de estoque. Seguindo o raciocínio, se toda vez que eu fico entediado eu boto uns cinco filmes pra baixar ao mesmo tempo que assisto apenas um filme por dia, obviamente muitos filmes terão que esperar muito pela sua vez. Foi o caso de Infância Clandestina, um dos primeiros filmes que baixei esse ano, e que, no entanto, empurrei com a barriga por longos três meses. Se eu tivesse a mínima noção do quanto esse filme é bom, teria assistido logo no dia em que baixei.

Imagine sua pré-adolescência com um nome falso e uma pistola embaixo da cama
Infância Clandestina é um dos expoentes mais recentes da longa tradição do cinema argentino em explorar os temas da ditadura militar no país. Dessa vez, a exemplo de 'O ano em que meus pais saíram de férias', a ditadura é abordada sob a ótica de alguém jovem demais para compreendê-la totalmente. O filme narra a volta de Juan e sua família à Argentina, depois de alguns anos de exílio, no qual seus pais recebem treinamento militar e planejam reunir-se com um grupo guerrilheiro local, com toda a família portando identidades falsas. Sob o nome Ernesto, Juan agora precisa equilibrar sua vida entre todos os segredos e precauções de sua família guerrilheira e sua vida normal de garoto que frequenta a escola e eventualmente se apaixona por alguém.
Apesar de ter como base um tema tradicional, Infância Clandestina trás consigo inúmeros elementos gráficos e narrativos que tornam a história mais dramática, dinâmica e interessante, tais como o uso do estilo graphic novel em cenas com combates armados violentos e trágicos e as várias retratações dos sonhos de Juan, os quais misturam os dois lados de sua vida dupla, colocando o constante risco de morte cara a cara com os personagens e elementos de sua infância. A suavização de toda a tensão do contexto através do tímido romance entre Juan e María também merece destaque, sendo a principal bandeira da abordagem da linha tênue que separa a infância da adolescência, algo tão central ao filme quanto a clandestinidade do protagonista e de sua família.
Esse é um dos filmes que conseguem me conquistar completamente na união de seus elementos, tendo um bom enredo, bons personagens, boas atuações, cenários, trilha sonora e tudo o mais. Baseando-se numa história real, ele não poderia deixar de terminar tragicamente. Mas mesmo assim o filme evita abordar diretamente a crueza do embate entre os dois lados da ditadura argentina, separando a esfera adulta da esfera infantil, reservando apenas a última para os expectadores.

Essa semana eu estou com sorte, já é o quarto filme excelente que assisto.