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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Filme nº 166: Meia Noite em Paris

Esse provavelmente foi um dos posts que mais deu trabalho esse ano. Isso acontece normalmente nos filmes que eu realmente gosto (e esse não foge à regra), mas acho que nesse caso também pesou o fato de várias pessoas que eu conheço amarem o filme. Desde o primeiro momento em que sentei pra tentar escrever o comentário sobre Meia Noite em Paris, há muitos dias, tenho sido atacado por uma impiedosa falta de ideias. O que é curioso, tratando-se de um filme essencialmente sobre inspiração. E foi constatando isso que notei que tudo o que precisava fazer para encontrar o caminho era imitar a fórmula do filme e tentar realizar uma viagem fantástica e surrealista à minha era de ouro particular. Funcionou? Não, mas pelo menos me rendeu o primeiro parágrafo do post.  

Present is a little unsatisfying because life is a little unsatisfying.
Lançado em 2011, Meia Noite em Paris conta a história (nem um pouco biográfica, pra variar) de Gil Pender, um escritor que tem alcançado relativo sucesso escrevendo roteiros comerciais para Hollywood, mas que encontra-se longe de se sentir realizado como um artista. Pensando nisso, Gil decide investir suas energias em seu primeiro romance sob o constante desencorajamento de sua esposa, que o pressiona a seguir na lucrativa carreira de roteirista comercial, além de desdenhar da sua grande paixão pela cidade e fascínio por sua Era de Ouro dos anos 20. Quando sua esposa insiste em convidar um amigo pseudo-intelectual pedante para acompanhá-los em todos os passeios turísticos, Gil dá uma escapadinha do grupo e se arrisca a desbravar a noite parisiense sozinho. Bêbado e perdido, ele senta numa calçada para tentar se orientar quando os sinos da meia noite anunciam a chegada de um automóvel que magicamente o transporta de volta para a década de 1920, onde ele encontra pessoas como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Salvador Dalí, Jean Cocteau e Pablo Picasso.
Com um enredo tão inusitado quanto amável, Woody Allen dá uma escapada do seu tradicional pessimismo neurótico e constrói um filme realmente inspirador. A primeira coisa que chama a atenção é o modo como o diretor delega descaradamente sua personalidade aos protagonistas (isso porque ele não protagoniza mais seus próprios filmes), e nisso Owen Wilson cumpre muito bem sua função, interpretando um Gil inquieto, tagarela e cheio de manias. Os demais personagens também cumprem muito bem seu papel, seja a esposa desagradável de Gil e seu amigo pedante, sejam os grandes artistas e escritores retratados durante as viagens no tempo.
Como era de se esperar, a cidade de Paris (de todas as eras) é praticamente um personagem do filme, com beleza, importância, carisma e personalidade. A paixão que ela desperta do protagonista (e consequentemente no expectador) é bastante autêntica, competindo em igualdade com o amor que ele eventualmente nutre por Adriana.  E a cidade não é mostrada de forma clichê do tipo Torre Eiffel museu restaurantes francesas bonitas franceses chatos, mas sim como a verdadeira Cidade Luz, capaz de despertar o melhor da razão e do coração de todos os que se deixam conquistar por ela.
Por fim, outro grande protagonista do filme é a década de 1920, muito bem construída através de figurino, cenários, personagens, atuações e trilha sonora. E não sei mais o que acrescentar sobre ela porque no fundo eu estou ao lado da Adriana ao ser Team Belle Époque. 

Satisfeito por ter assistido.

Nota: 10

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Filme nº 168: O Bandido da Luz Vermelha

Dando uma olhada na lista de filmes que assisti esse ano, constatei, em primeiro lugar, a injusta proporção de filmes nacionais em meio a uma tonelada de filmes americanos. No fim das contas, isso já era algo previsível por razões óbvias. Mas, dentro dos filmes nacionais, percebi também uma grande falta de ousadia da minha parte, que ainda não havia me arriscado no cinema nacional anterior à década de 1990 e fora do mainstream seltonmelliano ou wagnermourista. Com isso em mente, decidi pegar a coisa mais louca que apareceu na minha frente. E em termos de loucura, O Bandido da Luz Vermelha não decepciona.

QUEM TIVER DE SAPATO NÃO SOBRA
O Bandido da Luz Vermelha é um filme de 1968 que conta, dentre muitas e muitas outras histórias, a trajetória do criminoso mais temido e famoso da década de 1960, que transformou-se no inimigo público oficial da sociedade brasileira com suas invasões à residências de classe média-alta, roubando, estuprando ou apenas conversando com suas vítimas durante o processo, sempre escapando da política de formas espetaculares e torrando os lucros de forma extravagante. Pra minha surpresa, no entanto, a figura do bandido em si não é o ponto central do filme, que também trata de assuntos variados como a polícia, a imprensa, a política, a guerra, a cultura pop, os pobres, os ricos, os países pobres, os países ricos e a grande luta por identidade que um sujeito pé-de-chinelo trava para sobreviver em meio a tudo isso.
A primeira coisa que notei ao começar a assistir esse filme foi o fato dele ser incrivelmente original e criativo em sua execução, a qual ficou a cargo do diretor Rogério Sganzerla, que tinha apenas 22 anos na época (me fazendo pensar que talvez ainda haja tempo rs). Um dos aspectos que me chamou a atenção logo de cara foi a narração, que ficou a cargo de locutores de rádio sensacionalistas que permeiam a estória com notícias urgentes do Brasil e do mundo, tornando a narração extremamente frenética em seus temas. O enredo, por outro lado, é tão caótico e dadaísta que não demorou muito pra eu desistir de compreendê-lo completamente, simplesmente me deixando levar pelas dezenas de personagens e situações normais ou nem-tão-normais nas quais eles se encontram.
De todas as loucuras do filme, a que mais me agradou foi o clima extremamente tumultuado em que o Brasil se encontra (no enredo e na vida real), sendo sacudido por temas como terrorismo, guerrilha, ditadura, guerra fria, comunismo, bomba atômica, terceiro-mundo, espionagem, nazistas fugitivos, revolução, rebeldia, criminalidade, pobreza, corrupção, truculência, OVNIs, alienígenas e etc. A abordagem relativamente crítica de todos esses temas simultaneamente é surpreendente se levarmos em conta que o filme foi lançado no mesmo ano do AI-5. Se a minha intenção era sair do óbvio, eu não poderia ter sido mais bem sucedido.

Nota: 7,5

terça-feira, 23 de julho de 2013

Filme nº 165: Premonição 4

Encerrando com chave de alumínio o pequeno ciclo de filmes de terror (ou que parecem de terror), lhes apresento o irmão responsável pelos momentos constrangedores dentro da família Premonição. Eu realmente gosto muito da franquia, ela prova o ponto de Hitchcock ao mostrar que no fundo todo mundo curte testemunhar uns acidentes fatais bizarros. O quarto episódio, infelizmente, mergulhou de cabeça na porcaria da nova onda 3D e, dando a cara no fundo raso, quase morre de forma tão bizarra e ridícula quanto seus personagens. Quase.   

CARA, NÃO INVENTA, É SÓ UMA ESCADA ROLANTE
Dentro da franquia Premonição, a descrição do enredo é tão dispensável quanto a própria existência dele (não que isso seja ruim, a proposta foi original e os resultados dos três primeiros filmes foram bem interessantes), mas vou descrever o enredo assim mesmo. Tudo começa quando um grupo de jovens (sempre jovens, já estou perdendo a paciência) decide assistir uma corrida, até o momento em que um deles (não por acaso, o mais virtuoso) tem uma premonição extremamente realista de uma grande tragédia que está para acontecer. Assustado, ele obviamente tenta salvar quantas vidas puder, e os que não passam a acreditar nele no momento em que a tragédia de fato ocorre, provavelmente mudarão de ideia quando os sobreviventes começarem a morrer um de cada vez. 
Depois de bons momentos com o acidente de avião, o engavetamento na estrada e o fantástico acidente de montanha russa, eu já fiquei com o pé atrás com esse filme ao ver a abertura com um rockzão pesado. Filme de terror com rockzão pesado é a marca registrada da coxinhização do estilo, que aparentemente se transformou num sex-gore de ação. Mas, diga-se de passagem, a abertura foi bem legal, pagando tributo aos filmes anteriores. Pena que nem deu tempo de digerí-la bem, pois a cena do acidente é simplesmente a PIOR de toda a franquia, exagerada, forçadíssima, pouco inspirada e com péssimos efeitos visuais.
Bastante indignado, decidi torcer pra que as mortes individuais compensassem essa afronta. E as duas primeiras mortes quase me fizeram desistir, a primeira por ultrapassar todas as fronteiras do ridículo e a segunda por confundir a construção cuidadosa do suspense com o disparo mal educado da surpresa. Não bastasse esse retorno à 1995 em termos de trash, os dois protagonistas eram a perfeita definição do sem sal e sem graça, com um nível de telepatia que extrapola os costumes da franquia, enquanto que os personagens que tinham potencial para serem bons (o cowboy e o segurança) foram completamente desperdiçados.
'Mas, Nelson, é só pedras esse comentário?' Pior que não. Quando eu já me encontrava completamente descrente com o filme, ele deu uma melhorada significativa. A cena do lava-jato, por mais bizarra que soe, acabou sendo muito boa, criando um real clima de suspense. A ideia da piscina foi boa também (me afeta pessoalmente pois já quase morri daquele jeito), mas não era necessário ir até as últimas consequências só pra jogar algo na tela e fazer valer o 3D.
Por fim, a introdução de uma segunda tragédia foi uma ideia realmente interessante que acabou salvando o filme do completo desastre, evitando milagrosamente a maior parte dos erros escabrosos da primeira metade. Eu sempre digo que um bom final faz um bom filme, e é por isso que, apesar de ruim, eu me arrisco a dizer que Premonição 4 vale a pena sim, nem que seja como exemplo do que não fazer com uma boa franquia.

Nota: 6,0

domingo, 21 de julho de 2013

Filme nº 164: Rope

Juro pra vocês que a onda terror-suspense já vai dar um intervalinho. Assim como também espero que a demora de 2-3 dias por postagem também dê seu intervalinho. Ocupado demais pra ver Psicose, acabei procurando os exemplares mais curtinhos da filmografia de Hitchcock, e Rope acabou me chamando a atenção pela dose extra de sadismo e psicopatia, o que, dentro do contexto hitchcockiano, definitivamente significa alguma coisa. 

Murder can be an art too.
Rope é um filme de 1948 que conta a história de Brandon e Philip, uma dupla de jovens que se consideram intelectualmente superiores, e para colocar isso em prova decidem não apenas assassinar um colega de classe dentro do apartamento que compartilham em Nova York, como também organizar uma festa dentro do mesmíssimo cômodo no qual o corpo está escondido, tendo como convidados o pai e a noiva do colega assassinado. 
Já começando com o assassinato do pobre colega (que é até um pouco cômico, me processem), o filme segue basicamente sem qualquer tipo de troca de cena até sua conclusão, o que obviamente chamou minha atenção positivamente depois de Children of Men. Além desse bom trabalho estético de direção, o filme conta com personagens bem marcantes, auxiliados por excelentes atuações pautadas em diálogos bem articulados. A começar pela dupla de assassinos. Brandon, o mais convicto, convence muito no papel de psicopata debutante, enquanto Philip, interpretado por Farley Granger (o mesmo de Strangers on a Train), consegue a proeza de manter a postura de bom moço mesmo sendo a mão que cometeu o assassínio. A bela personagem de Janet é mais uma prova de que os papéis femininos de Hitchcock costumam ser inteligentes e seguras de si (com o bônus de ser carismática e engraçada). Por fim, o soturno professor Rupert, interpretado por James Steward, é na minha opinião o melhor personagem de todos. 
Como já havia constatado em Strangers on a Train, Hitchcock realmente não faz questão de esconder seu fascínio pouco social por assassinatos. Seus personagens invariavelmente estão sempre conversando sobre cometer crimes perfeitos, isso quando não estão cometendo-os pelo fascínio que isso gera em suas mentes. E Rope obviamente leva isso até as últimas consequências.

Nota: 10

terça-feira, 16 de julho de 2013

Filme nº 162: Jogos Mortais

Pra quem sempre se considerou avesso à torturas e mutilações em filmes de terror, a ideia de assistir Jogos Mortais me parecia inconcebível, mesmo sabendo de todos os comentários que classificavam o filme como genial. Mas com essa constante quebra de paradigmas, Jogos Mortais parecia o mais óbvio desafio a ser superado. Nesse caso, missão cumprida. O filme é muito mais tranquilo do que imaginei, embora tenha sido necessário um pouco de paciência para descobrir onde, afinal, estava toda a genialidade (mas relaxem, que ela estava lá). Acho que o próximo passo agora é assistir O Albergue ou os filmes do Almodóvar.

I want to play a game..
Jogos Mortais começa com uma dupla de homens que acordam com os pés acorrentados às paredes de um banheiro imundo no qual há um cadáver no chão e várias mensagens secretas. Não demora muito para descobrirem que estão nas mãos de um grande serial killer em ascensão chamado Jigsaw, responsável pela morte de dezenas de pessoas sem sujar as mãos com nenhuma delas. Conforme tentam cooperar para escapar, eles se dão conta de que nenhum deles está ali por acaso, e que eventualmente terão de se voltar um contra o outro para recuperar a liberdade.
A primeira coisa que me chamou a atenção no filme foi seu trabalho de direção bem feioso, reflexo, dentre outras coisas, do baixo orçamento do primeiro filme. Eu sei que boa parte dos cenários tinha por intenção ser horrível, mas isso se reflete basicamente em todos os aspectos físicos do filme. Outro ponto fraco que detectei de cara foram as atuações não tão boas (com algumas decididamente ruins) da maior parte dos personagens, que serviu pra coroar a impressão de que tratava-se de um filme B.
Não, Jogos Mortais não é um filme B. E isso se deve única e exclusivamente ao enredo inteligente e bem construído que fez um ótimo trabalho em me fazer achar que não era um enredo inteligente e bem construído. Durante a maior parte do filme fiquei pensando 'ok, já entendi a parte sádica, agora cadê a parte inteligente que me falaram', imaginando que o Jigsaw estava bem longe de ser aquela evil mastermind que eu achei que fosse por conta de uma série de atitudes estúpidas e um enredo confuso e não-linear que parecia estar correndo atrás da própria cauda. Isso sem mencionar a frustração com o quão pouco o bonequinho Billy dá as caras no filme.
Mas como um bom final faz um bom filme, fui pego de surpresa pelo desenrolar dos eventos e de uma hora pra outra me vi diante de um enredo surpreendentemente bom, que merecidamente fez muito sucesso e arrecadou bastante dinheiro para estragar a franquia com oitocentas sequências. Mas fingindo desconhecer os rumos da série, eu realmente fiquei animado para assistir a continuação da história, que termina indicando que ainda há muito pela frente (ah, e como tem).
Pra quem nunca assistiu o filme pelos mesmos receios que eu, repito: é bem light, não se deixe enganar pelos cartazes.

Nota: 8,5

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Filme nº 158: Children of Men

Dos efeitos que o ato de ver tantos filmes tem provocado em mim, um dos mais curiosos é meu interesse crescente pelos detalhes do trabalho de direção. Sim, eu ando fantasiando sobre como seria ser o diretor de um filme e o quão legal seria trabalhar com seus aspectos mais técnicos. E Children of Men foi justamente o filmes que mais incentivou esse devaneio biruta ultimamente, com um trabalho de direção impecável do mexicano Alfonso Cuarón (que também dirigiu 'E sua Mãe Também' e 'Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban'), que pode ser resumido em duas palavras: plano-sequência.

It's very odd what happens in a world without children voices.
Children of Men se passa em 2027, ano em que a humanidade está de luto pelo assassinato do homem mais jovem do mundo, morto aos 19 anos de idade. Depois de duas décadas de completa infertilidade na espécie humana, é quase impossível manter a esperança num planeta onde não existem mais crianças. Frente essa situação, a maior parte dos países sucumbiu ao caos e à anarquia, e os poucos que conseguiram manter algum vestígio de ordem, como a Grã-Bretanha, agora vivem numa ditadura que persegue implacavelmente todo e qualquer imigrante. 
Dentro desse contexto, o burocrata Theo Faron (Clive Owen) é surpreendido pelo ressurgimento de sua ex-esposa Julian (Julianne Moore), uma antiga ativista que agora comanda um grupo clandestino de apoio aos imigrantes, que pede sua ajuda na obtenção de documentos para tirar uma refugiada do país. Depois de uma série de imprevistos, Theo se vê muito mais envolvido no problema do que gostaria, entrando no meio de uma disputa de poder entre grupos terroristas e forças militares corruptas, terminando como o único responsável pela segurança dessa refugiada que milagrosamente carrega um filho em seu útero.   
Bom, nem preciso mencionar que o universo em torno desse enredo é incrivelmente interessante e original, apresentando um mundo em vias de se tornar apocalíptico, habitado por gente que tem plena consciência disso. O cinzento cenário de pessimismo e austeridade dentro das fronteiras britânicas, e o escabroso caos e violência fora delas é extremamente bem construído, contando com o auxílio de cenários detalhados que retratam as cidades, os campos de refugiados, as áreas rurais e os campos de guerra.
Outro ponto notável são os personagens, a começar pela excelente atuação de Clive Owen no papel do protagonista. Depois de vários filmes de ação um tanto quanto malucos dos quais ele fez parte, foi uma grande surpresa vê-lo interpretando um papel sério e extremamente humano. Não poderia também esquecer de citar o personagem de Michael Caine, que abandona o esnobe personagem do mordomo Alfred dos Batmans de Nolan e se transforma num hippie irreverente e maconheiro. A atuação desses e de todos os outros personagens é potencializada pelo grande realismo do filme em termos de cenas de ação (balas atingem seus alvos, explosões com menos fogo e mais destroços) e demais detalhes que geralmente ficam de lado na maioria dos filmes anglófonos (estrangeiros que não falam inglês, personagens que se ferem de verdade).
Pra terminar, eu preciso citar o que realmente me deixou apaixonado pelo trabalho de direção do filme, que são as incríveis cenas de plano-sequência, nas quais ações de vários minutos são gravadas num único take. Logo fiquei intrigado acerca de como diabos eles conseguiam fazer cenas de até 10 minutos de perseguições, tiroteios, explosões e centenas de atores num único take perfeitamente sincronizado. No começo me decepcionei por ver que se tratava de computação gráfica, mas logo voltei a ficar fascinado porque, de toda forma, segue sendo um efeito fascinante com resultados de tirar o fôlego.

Nota: 10

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Filme nº 155: Apollo 18

Um leitor mais atento provavelmente notará que aos poucos os filmes de terror tem ficado mais frequentes na minha lista. Bom, acho que em algum momento desse ano eu rompi meu tradicional receio (medinho) e preconceito (medinho de novo) com esse estilo, e um mergulho em meia dúzia de filmes que assisti de lá pra cá me fez ver que no fundo eu era um fã encubado do gênero (especialmente pela curta duração da maioria dos filmes). Como dizia Hitchcock: "eu acho que todo mundo aprecia um bom assassinato, desde que não seja a vítima". Pena que esse filme não é lá essas coisas.

There's a reason we've never gone back to the Moon.
Apollo 18 é basicamente uma coletânea de filmagens divulgadas por algum tipo de conspiração que denuncia a até então desconhecida existência de uma última missão tripulada à Lua em 1972, além de mostrar os reais motivos para o homem jamais ter voltado a pisar lá. Nessa missão, três astronautas são enviados secretamente à Lua por razões que não lhe são reveladas. Aos poucos eles acabam descobrindo que muito possivelmente não se encontram sozinhos em solo lunar. 
Apesar da intensão em ter suas filmagens no estilo 'founded footage', o formato do filme lembra mais um documentário, já que as imagens não são cruas e nem corridas, mas sim constantemente editadas. Claro que existe a desculpa de que seja lá quem divulgou tudo isso foi quem editou, mas o enredo perde muito em naturalidade. Essas mesmas filmagens, por outro lado, exercem um papel fundamental na construção do clima de terror e suspense do filme através de ruídos de estática e interferência. Pena que o áudio das falas não corrobora a razoavelmente boa edição de vídeo feita para fazer com que as filmagens pareçam pertencer à época. 
Outro aspecto que poderia ser bem melhor com relativamente pouco esforço são os personagens. Apesar da falta de personalidade não se resolver assim tão facilmente, poderia ter havido algum esforcinho para fazer com que eles realmente parecessem viver nos anos 70. Mas não, todos são bem genéricos no visual e na personalidade, não esquecendo jamais de cometer suas doses de burrice pra que não esqueçamos que, afinal de contas, é um filme de terror. 
No mais, o filme tem seu estoque de ideias interessantes apesar do desfecho decepcionante. Não vou comentar nem um nem outro pra guardar as surpresas pra quem se interessar, mas acho que dá pra ao menos mencionar o site lunartruth.com, que funciona como uma espécie de teaser para o filme, além de servir de explicação para toda a conspiração. Ainda não li, quem sabe um dia (qual a chance).

Nota: 6,5

sábado, 6 de julho de 2013

Filme nº 150: Meu Nome Não é Johnny

Minha credibilidade aqui deve estar baixíssima com esse volta/não volta. Também não está ajudando o fato deu nunca mais ter comentado um filme nacional. Aparentemente eu esvaziei minha lista de bons filmes senso-comum Selton Mello-Wagner Moura que vêm à cabeça de imediato quando se pensa em cinema brasileiro. Sim, isso é um grande pecado pra quem se propõe a fazer o que to fazendo. Gostaria de contar com as sugestões de vocês para expandir meu nicho de bons filmes nacionais.

Meu objetivo é TORRAR um milhão de dólares (risos, vai nessa amigão)
Meu Nome Não é Johnny narra a história real de João Guilherme Estrella, uma cria da classe média-alta carioca que a partir da separação dos pais mergulha aos poucos num estilo de vida hedonista de festas e drogas. Cada vez mais popular e viciado em cocaína, João Estrella entra por acaso na rede de distribuição de droga para abastecer suas próprias festas. Com o aumento da demanda e uma troca progressiva de fornecedores, João Estrella torna-se em poucos anos o maior vendedor de drogas do Rio de Janeiro sem montar qualquer tipo de império nem nunca ter disparado um único tiro. 
A princípio fiquei em dúvida se deveria ou não comentar esse filme, já que, apesar de ter gostado, eu julguei não ter nada de muito interessante pra comentar. Mas aí voltei atrás por conta da escassez de filmes nacionais e também por lembrar que só assisti esse filme porque o Mestre Mkt Love sugeriu, e portanto não poderia ficar devendo essa. 
Partindo de uma ideia interessante e inusitada se pegarmos os contos do tráfico de filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, Meu Nome Não É Johnny contrasta a ascensão meteórica de João Estrella durante a década de 1980 com sua queda fulminante ao ser preso e condenado em 1995 sem a violência e ação dos filmes de Fernando Meirelles e de José Padilha. O melhor aspecto do filme na minha opinião foi a retratação dos anos 80 e a juventude loucaça que neles viveu, e essa abordagem conta com a ajuda de um bom trabalho de reconstituição da época através de carros, roupas e acessórios, além da ótima trilha sonora. 
A parte final do filme, por outro lado, coloca o pé no freio em todos esses elementos e insere a história numa tentativa de drama que não me agradou muito. Essa é a etapa na qual João Estrella conhece tragicamente seu alter ego Johnny (a justificativa pro nome do filme só vem nesse finzinho) ao parar no banco dos réus e na prisão. Felizmente não era objetivo do filme mostrar a realidade do sistema penal brasileiro (se eu quisesse explorar o tema estaria assistindo Carandiru), e essa parte é relativamente curta, embora não deixe de ser um pouco contaminada pela pieguisse de história de superação. Mas se foi isso que aconteceu na vida real, paciência.
Outra ressalva que eu faço diz respeito ao elenco, que não me pareceu muito bem escolhido no geral. Selton Mello, apesar de fazer uma excelente interpretação, simplesmente não se encaixa satisfatoriamente no papel de hedonista vida loka. Digo, basta assistir o Cheiro do Ralo e fazer uma comparação entre os dois protagonistas pra descobrir que estilo o ator interpreta com mais naturalidade. Cléo Pires é outra que não me convenceu muito, com a diferença de que na minha opinião ela não soa natural em nenhum papel que não seja o dela mesmo (jovem petulante com um irremovível sotaque carioca). Julia Lemmertz por sua vez é subutilizada no papel de mãe do João Estrella, sendo ausente não só na maternidade mas também no filme inteiro. Por fim, o restante do elenco em sua maioria parece  tirado da Malhação (alguns de fato o são), o que é auto-explicativo. 

Nota: 8,0

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Filme nº 147: [REC]²

Esse é oficialmente o post que mais tomei tempo para escrever nesse blog. São quase 20 dias de diferença entre hoje e o dia que assisti o filme. Durante esse tempo eu bem que tentei publicar esse post em várias ocasiões, mas foi realmente difícil terminá-lo por conta da falta de inspiração, da falta de tempo, do excesso de coisas acontecendo no país e na minha vida e, por fim, do excesso de ódio que nutri pelo filme. Eu meio que já esperava ver uma piora do segundo filme para o primeiro pois normalmente sou contra a produção indiscriminada de sequências (vale lembrar que [REC] 4 está para ser lançado esse ano), especialmente em filmes de terror. Mas, como o crítico razoável que tento ser, procurei ver do que se trata antes de começar a condenar. Agora que vi, segura aí minha condenação.  

??Que cojones están haciendo con esta franquia???
Começando exatamente onde o primeiro termina, [REC]² narra a entrada de um agende do ministério da saúde acompanhado de um esquadrão da polícia no edifício em quarentena para controlar a situação e obter uma amostra de sangue do paciente zero. Uma vez fechados lá dentro, eles logo se deparam com os seres descontrolados que aterrorizaram o edifício no filme anterior. A sequência, no entanto, larga aquele clima de possível infecção biológica e aposta no (muito, muito pior) sobrenatural ao começar a falar de Vaticano e possessão demoníaca (eu sei que isso já vem desde o primeiro filme, mas lá ao menos existia a ilusão).
Desde o início eu já senti que iria curtir o filme bem menos do que o original, a começar pelos personagens principais, um protagonista misterioso cercado de um bando de soldados, que já dão a entender que o filme vai se focar muito mais no tiroteio do que no terror. Outro ponto negativo dos personagens é que eles são praticamente desprovidos de personalidade, além de facilmente suscetíveis à ataques de fúria e medo que nem os despreparados civis do filme anterior tinham. A constante raiva dos soldados é especialmente irritante e não-natural, recheando o filme de palavrões hispânicos desnecessários.
Outra perda em relação ao primeiro filme é o relativo abandono do formato improvisado em direção a algo mais subordinado a um script, sendo mais filme e menos documentário. Isso tira muito da espontaneidade que me fez gostar da franquia em primeiro lugar, abrindo muita brecha para clichês. Alguns outros detalhes também ficaram diferentes, como a facilidade com que as pessoas se infectam. Em média as pessoas do primeiro filme se infectavam com tremenda facilidade, enquanto nesse os caras se agarram, se esfregam, lambem, beijam na boca dos zumbis e nada. Por fim, o elemento sobrenatural sempre dá liberdade pro roteirista fazer o que quiser sem dar a menor justificativa de nada, e isso fica evidente nas cenas com a menina Medeiros na escuridão, onde aparentemente existem duas dimensões diferentes sem qualquer explicação.
Quando eu estava pra declarar o filme um caso perdido, descubro esperançosamente que ele é dividido em duas partes distintas, com personagens diferentes. Com essa chance de ouro na mão, é claro que decidiram introduzir personagens ainda mais burros e irritantes que os primeiros, sendo a maioria deles desnecessária. E falando em personagens, uma das coisas que mais me fez ter vontade de ver a sequência era a chance de rever os personagens que tanto curti no primeiro filme. E pra minha decepção isso foi completamente mal explorado, não retornando efetivamente os que eu queria ver e ainda por cima escrotizando os que voltaram.

Fiquei realmente chateado com os rumos da franquia. Com certeza não verei o terceiro filme com a mesma pressa com que vi o segundo. Pra um hiato tão grande e um filme tão ruim, eu já esperava que o post acabasse ficando grande. Foi mal, tentarei ser mais conciso nos próximos.

Nota: 5,0