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sábado, 2 de março de 2013

Filme nº 60: Infância Clandestina

Para os que talvez não acreditem, eu realmente guardo todas as sugestões de filme que recebo, geralmente favoritando as páginas no IMDb do filme recomendado numa pasta que visito sempre que estou entediado (e isso acontece com bastante frequência). Normalmente durante essas visitas, eu já vou colocando vários filmes pra baixar ao mesmo tempo, pra deixar de estoque. Seguindo o raciocínio, se toda vez que eu fico entediado eu boto uns cinco filmes pra baixar ao mesmo tempo que assisto apenas um filme por dia, obviamente muitos filmes terão que esperar muito pela sua vez. Foi o caso de Infância Clandestina, um dos primeiros filmes que baixei esse ano, e que, no entanto, empurrei com a barriga por longos três meses. Se eu tivesse a mínima noção do quanto esse filme é bom, teria assistido logo no dia em que baixei.

Imagine sua pré-adolescência com um nome falso e uma pistola embaixo da cama
Infância Clandestina é um dos expoentes mais recentes da longa tradição do cinema argentino em explorar os temas da ditadura militar no país. Dessa vez, a exemplo de 'O ano em que meus pais saíram de férias', a ditadura é abordada sob a ótica de alguém jovem demais para compreendê-la totalmente. O filme narra a volta de Juan e sua família à Argentina, depois de alguns anos de exílio, no qual seus pais recebem treinamento militar e planejam reunir-se com um grupo guerrilheiro local, com toda a família portando identidades falsas. Sob o nome Ernesto, Juan agora precisa equilibrar sua vida entre todos os segredos e precauções de sua família guerrilheira e sua vida normal de garoto que frequenta a escola e eventualmente se apaixona por alguém.
Apesar de ter como base um tema tradicional, Infância Clandestina trás consigo inúmeros elementos gráficos e narrativos que tornam a história mais dramática, dinâmica e interessante, tais como o uso do estilo graphic novel em cenas com combates armados violentos e trágicos e as várias retratações dos sonhos de Juan, os quais misturam os dois lados de sua vida dupla, colocando o constante risco de morte cara a cara com os personagens e elementos de sua infância. A suavização de toda a tensão do contexto através do tímido romance entre Juan e María também merece destaque, sendo a principal bandeira da abordagem da linha tênue que separa a infância da adolescência, algo tão central ao filme quanto a clandestinidade do protagonista e de sua família.
Esse é um dos filmes que conseguem me conquistar completamente na união de seus elementos, tendo um bom enredo, bons personagens, boas atuações, cenários, trilha sonora e tudo o mais. Baseando-se numa história real, ele não poderia deixar de terminar tragicamente. Mas mesmo assim o filme evita abordar diretamente a crueza do embate entre os dois lados da ditadura argentina, separando a esfera adulta da esfera infantil, reservando apenas a última para os expectadores.

Essa semana eu estou com sorte, já é o quarto filme excelente que assisto. 

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