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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Filme nº 168: O Bandido da Luz Vermelha

Dando uma olhada na lista de filmes que assisti esse ano, constatei, em primeiro lugar, a injusta proporção de filmes nacionais em meio a uma tonelada de filmes americanos. No fim das contas, isso já era algo previsível por razões óbvias. Mas, dentro dos filmes nacionais, percebi também uma grande falta de ousadia da minha parte, que ainda não havia me arriscado no cinema nacional anterior à década de 1990 e fora do mainstream seltonmelliano ou wagnermourista. Com isso em mente, decidi pegar a coisa mais louca que apareceu na minha frente. E em termos de loucura, O Bandido da Luz Vermelha não decepciona.

QUEM TIVER DE SAPATO NÃO SOBRA
O Bandido da Luz Vermelha é um filme de 1968 que conta, dentre muitas e muitas outras histórias, a trajetória do criminoso mais temido e famoso da década de 1960, que transformou-se no inimigo público oficial da sociedade brasileira com suas invasões à residências de classe média-alta, roubando, estuprando ou apenas conversando com suas vítimas durante o processo, sempre escapando da política de formas espetaculares e torrando os lucros de forma extravagante. Pra minha surpresa, no entanto, a figura do bandido em si não é o ponto central do filme, que também trata de assuntos variados como a polícia, a imprensa, a política, a guerra, a cultura pop, os pobres, os ricos, os países pobres, os países ricos e a grande luta por identidade que um sujeito pé-de-chinelo trava para sobreviver em meio a tudo isso.
A primeira coisa que notei ao começar a assistir esse filme foi o fato dele ser incrivelmente original e criativo em sua execução, a qual ficou a cargo do diretor Rogério Sganzerla, que tinha apenas 22 anos na época (me fazendo pensar que talvez ainda haja tempo rs). Um dos aspectos que me chamou a atenção logo de cara foi a narração, que ficou a cargo de locutores de rádio sensacionalistas que permeiam a estória com notícias urgentes do Brasil e do mundo, tornando a narração extremamente frenética em seus temas. O enredo, por outro lado, é tão caótico e dadaísta que não demorou muito pra eu desistir de compreendê-lo completamente, simplesmente me deixando levar pelas dezenas de personagens e situações normais ou nem-tão-normais nas quais eles se encontram.
De todas as loucuras do filme, a que mais me agradou foi o clima extremamente tumultuado em que o Brasil se encontra (no enredo e na vida real), sendo sacudido por temas como terrorismo, guerrilha, ditadura, guerra fria, comunismo, bomba atômica, terceiro-mundo, espionagem, nazistas fugitivos, revolução, rebeldia, criminalidade, pobreza, corrupção, truculência, OVNIs, alienígenas e etc. A abordagem relativamente crítica de todos esses temas simultaneamente é surpreendente se levarmos em conta que o filme foi lançado no mesmo ano do AI-5. Se a minha intenção era sair do óbvio, eu não poderia ter sido mais bem sucedido.

Nota: 7,5

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